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O Dinossauro - Ordem Livre

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condição que eles, também, me deem seu direito e me autorizem a todas as ações da mesma<br />

maneira". O raciocínio termina numa justificativa do despotismo, da monarquia absoluta ou<br />

da ditadura totalitária: "Contratos sem a espada nada mais são do que palavras e de força<br />

alguma para assegurar o comportamento de um homem". E de novo: "os laços criados pelas<br />

palavras são demasiadamente fracos para refrear a ambição, a avareza, a cólera e as outras<br />

paixões do homem, sem o medo de algum poder coercitivo". Pois a psicologia de Hobbes<br />

só pode ser compreendida na base de um pensamento exclusivamente preocupado com o<br />

interesse próprio, sofrendo do medo onipresente de aniquilamento fatal.<br />

Acrescente-se entretanto que, fora deste ponto de vista melancólico a respeito do<br />

Inconsciente instintivo, a concepção de Liberdade afagada por Hobbes — na medida em<br />

que somente no chamado "estado de natureza" pode o homem livremente expressar seus<br />

desejos e aversões, e externar, sem constrangimento, a libido de sua vontade de poder —<br />

não se distingue fundamentalmente da dos Românticos, na versão original que nos deixaria<br />

Rousseau do Contrato Social.<br />

A psicanálise freudiana, especialmente a que se inspira no Freud já envelhecido, o<br />

Freud do Instinto de Morte, o Freud que já sofria de câncer e já conhecera os dissabores da<br />

rebelião de discípulos queridos<br />

— oferece uma curiosa versão moderna da teoria hobbesiana. Surge o mesmo problema da<br />

ordem social que Hobbes levantara. Para Freud, a psique humana transforma-se no campo<br />

de batalha e de tensão, no qual o Eu consciente se depara, de um lado, com as forças do<br />

Superego, representante dos valores sociais e morais que mantêm a integridade do grupo; e<br />

de outro, com a energia rebelde do Id, carregando os impulsos instintivos de sexo e<br />

agressão. Em Totem e Tabu, Freud se refere ao primeiro "contrato social", que teria sido<br />

concluído entre os filhos rebeldes após o parricídio canibalesco do gorila primordial, com a<br />

imposição do tabu do incesto, o culto totêmico e a regra da exogamia.<br />

A concepção de um conflito interior entre Thanatos e as restrições morais<br />

inflingidas pelo Superego, enquadra-se perfeitamente como expressão psíquica do contrato<br />

leviatânico de Hobbes. Aliás, não passa de uma variante da crença generalizada nos séculos<br />

XVII e XVIII quanto à necessidade das "paixões da alma" serem controladas pela Razão. O<br />

Contrato Social, quer o de Totem e Tabu, quer o do Leviatã, quer o de Locke e o de<br />

Rousseau, é sempre um produto da Razão reprimindo os impulsos das paixões instintivas. A<br />

crença é constante na Filosofia Perene. Ela surge talvez em clara expressão filosófica no<br />

famoso capítulo 7 da Epístola aos Romanos, onde S. Paulo, o primeiro grande psicólogo da<br />

história da filosofia, alude à tremenda batalha interior entre a Vontade racional de fazer o<br />

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