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O Dinossauro - Ordem Livre

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Diabo, sendo corolário do Pecado Original — a ponto de obter uma ascendência completa<br />

sobre o Ego. E, já que a psique humana é apenas motivada por desejos e que seu objeto<br />

"não é apenas de gozar uma única vez, e por um só instante", mas de "se assegurar para<br />

sempre o caminho para seu futuro desejo", conclui Hobbes, pessimisticamente, que "existe<br />

uma inclinação geral da humanidade, um desejo perpétuo e infatigável no sentido de obter<br />

poder e mais poder, o qual apenas cessa com a morte". Lembrai-vos do aforismo de Lenine:<br />

a única realidade é o poder. Eis o postulado exclusivista e unilateral da psicologia de<br />

Hobbes: a natureza primária do instinto de vida é a preservação darwiniana de si próprio e o<br />

domínio sobre os outros, por quaisquer meios. Esse ponto de vista pode oferecer aspectos<br />

lamentáveis: o amor, por exemplo, nada mais seria que o sentimento de nosso próprio<br />

poder, quando dele suficientemente dispomos para nos permitir o luxo de ajudar a outrem.<br />

O princípio dos opostos, na doutrina determinística das "moções vitais", é construído como<br />

uma polaridade de prazer e de dor, de desejo e aversão, de amor e ódio, de medo e ataque<br />

— todos esses impulsos surgindo a partir do instinto primordial de autopreservação. Toma<br />

Hobbes de Sto. Agostinho a concepção de amor sui, literalmente o "amor próprio" ou<br />

egoísmo que constituiria o campo volitivo de nossa vida objetiva na terra. E a partir desse<br />

argumento, que ressurgirá na metáfora darwiniana de luta pela vida e de "gene egoísta" que<br />

se quer reproduzir a qualquer custo, propôs-se Hobbes a reconstruir, com lógica e exclusiva<br />

seriedade, um edifício político de envergadura realmente monumental.<br />

* * *<br />

Em contraposição aos apetites primitivos e naturais e às nossas aversões — que<br />

encontram sua origem no coração e em virtude dos quais sofremos de emoções — podemos<br />

propor um outro princípio que é o racional. A Razão habita a cabeça pensante. A Razão<br />

dirige nossas ações inteligentemente. Ela tende para objetivos de autopreservação melhor<br />

arquitetados e logicamente dispostos. Escreve Hobbes: "Uma lei da natureza é um preceito<br />

ou regra geral, descoberto pela razão, em virtude do qual é vedado ao homem fazer aquilo<br />

que é suscetível de destruir sua vida, ou de lhe privar dos meios para preservá-la; e a omitir<br />

aquilo através de que acredita possa ela ser preservada da melhor maneira." A Razão é,<br />

consequentemente, um princípio estritamente utilitário: limita-se à previsão dos meios, mais<br />

eficazes e mais distantes possíveis no tempo e no espaço, de preservar a vida e garantir a<br />

segurança. Eis o que escreve: "E dado que a condição do homem é uma condição de guerra<br />

de todos contra todos, sendo neste caso governado por sua própria razão, e, não havendo<br />

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