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O Dinossauro - Ordem Livre

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Na literatura, como notou Denis de Rougemont, o tema central do romantismo é o<br />

triângulo amoroso, com o paradigma original de Tristão e Isolda. Ou da rainha Guinevère e<br />

Lancellot du Lac do ciclo arturiano. O tema arquetípico do adultério, o triângulo, se repete<br />

indefinidamente, em torno da luta entre a paixão e a ordem racional da família. É sempre a<br />

Libido em revolta contra o intelecto frio.<br />

A razão, entretanto, é um dos bens mais preciosos de que dispõe a humanidade — e só peca<br />

pela arrogância. Os pensadores românticos na linha de Rousseau, Fichte, Hegel, Comte,<br />

Marx, submeteram a razão a seus propósitos passionais e criaram a ideologia. A ideologia é<br />

uma falsa construção teórica, aparentemente racional mas carregada de energia emocional<br />

incoerente e fanática. O romantismo seria então a reação desarvorada contra "los suenos de<br />

la razón producen monstruos", do famoso desenho de Goya.<br />

A forma política mais comum do romantismo político é o chamado Culto da<br />

Personalidade do herói salvador e messiânico. Luís Carlos Prestes em certa época foi o<br />

Cavaleiro da Esperança: a lenda arturiana e sebastianista permanentemente renasce em<br />

nossa terra. Conheci um intelectual brasileiro que sucessivamente admirou Hitler, Gandhi,<br />

Nasser, Fidel Castro, Che, Mao. Estaria hoje aplaudindo o comandante Ortega ou o coronel<br />

Gadafi. Enfim, a escolha de Ortega denunciaria uma certa decadência dos modelos<br />

heroicos, desde as décadas triunfantes de Hitler, Mussolini e Stalin.<br />

A atitude dos românticos em relação à figura emergente do herói militar, do líder<br />

carismático, do chefe de guerra é caracteristica-mente ambivalente: machista e feminina.<br />

Vejam o caso de Bonaparte. A epopéia napoleônica inicialmente fascinou todos os poetas<br />

românticos, como assinala Harold Nicolson. Goethe e Beethoven, Chateau-briand e Victor<br />

Hugo, Stendhal e Manzoni, Byron e Scott, até mesmo Goya se entusiasmaram pela figura<br />

gigantesca do Corso que ia dominar a França e tentar ordenar a Europa. A arte francesa de<br />

princípios do século XIX — Style Empire — quase que invariavelmente celebra a grandeza<br />

do herói. O próprio Napoleão, aliás, correspondeu ao fascínio quando na adolescência se<br />

deixou seduzir por Rousseau. Hegel, por sua vez, veria no general vitorioso em Iena o<br />

próprio Weltgeist, o Espírito do Mundo montado em seu cavalo branco. A personificação do<br />

Leviatã em seu despotismo, em seu cinismo, em sua ambição sanguinária, sua absoluta falta<br />

de compaixão pelos sofrimentos que causava, e em seu intelectualismo opressivo, acabou<br />

horrorizando aqueles que o haviam aplaudido. Beethoven rasgou a dedicatória da 3ª<br />

Sinfonia, a Eroica, e Goya pintou o "Massacre de 3 de maio", início de uma série sombria<br />

sobre os horrores da invasão napoleônica na península. Mas a legenda e a epopeia<br />

perdurariam por mais de cem anos, acometendo todos os líderes que surgiam na América<br />

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