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O Dinossauro - Ordem Livre

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cherchez la femme, mas de procurar o homem. O homem em cujo benefício tal decreto fora<br />

assinado, tal medida tomada, tal portaria exarada, tal cargo criado, tal obra encetada, tal lei<br />

elaborada. É o que se poderia chamar o Princípio da Onipotência do Interesse Pessoal —<br />

uma forma irracional de governo. O mesmo se pode dizer que ocorreu na Rússia tzarista.<br />

Não foram tanto as injustiças econômicas do regime (que aliás, nesse capítulo, melhorava<br />

rapidamente em princípios do século), mas sua monumental incompetência, revelada na<br />

guerra de 1914, que o deitou por terra. O tzarismo conseguiu o prodígio de ter um ministro<br />

da Guerra que era agente alemão e de mandar divisões inteiras para a frente de batalha sem<br />

fuzis e sem balas.<br />

* * *<br />

O problema da "mentalidade" burocrática leva-nos a considerar os fenômenos mais<br />

profundos do temperamento inato, das características psicológicas da raça e o inconsciente<br />

coletivo.<br />

Foi um ministro do Planejamento que, empenhado em corrigir o nosso mal,<br />

declarou textualmente: "A reforma administrativa, antes de ser um problema para técnicos<br />

de administração apenas, é muito mais uma reforma de mentalidade, pois ela se realiza mais<br />

na cabeça das pessoas do que através de decretos e organogramas." Ao afirmar a<br />

necessidade de uma transformação da mentalidade coletiva, o senhor Hélio Beltrão deu<br />

exata precedência ao aspecto psicológico do problema. Assim, se à primeira vista certas<br />

facetas do <strong>Dinossauro</strong> burocrático são passíveis de uma arqueologia do período colonial,<br />

outras há impenetráveis, à crítica histórica e mais facilmente acessíveis à fina análise sóciopsicológica.<br />

Se a burocracia é efetivamente uma expressão sociológica da civilização<br />

moderna segundo Weber, sendo inseparável das transformações por que está passando o<br />

mundo na revolução industrial, também possui aspectos que são próprios da nossa área<br />

geográfica, cultural ou racial, e diferentes da área eslava, germânica ou anglo-saxônica. O<br />

nosso caso assemelha-se ao da França, da Itália e dos países ibéricos. Pertencemos à mesma<br />

Família Espiritual. Muito embora as condições históricas sejam, entre nós, diferentes, isso<br />

aponta para uma explicação psicológica, válida em todos esses casos.<br />

Há alguns anos, publicou o conde Sanche de Gramont um retrato da França e dos<br />

franceses, no qual dedica 61 eruditas e divertidas páginas para descrever a maravilha de<br />

inépcia codificada que é a burocracia francesa. Segundo Gramont, a Revolução, Napoleão e<br />

o século do racionalismo não foram suficientes para corrigir todos os vícios do Ancien<br />

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