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Ministério da Saúde<br />

Na história alimentar, a agricultura é uma prática de produção milenar, adotada por<br />

vários povos da antiguidade como opção para aumentar a disponibilidade de alimentos. As<br />

antigas sociedades praticavam o cultivo de alimentos e de animais para alimentação com base<br />

nas possibilidades estabelecidas pela natureza na região geográfica onde viviam. Tome-se como<br />

exemplo a civilização greco-romana, precursora da civilização ocidental, cujo desenvolvimento<br />

agrário foi o alicerce para a fundação de centenas de cidades. Por sua vez, o modelo silvo-pastoril de<br />

exploração de florestas e recursos naturais era compreendido como ação não civilizada (FLANDRIN;<br />

MONTANARI, 1998).<br />

A agricultura mundial se desenvolveu a partir de grandes revoluções, a saber: a introdução<br />

do arado, instrumento fundamental na transição da economia de subsistência silvo-pastoril para<br />

a agrária; a rotação de cultivos e a implementação de novas técnicas; a exploração agropecuária<br />

combinada à mecanização; a agroindústria com base no uso de implementos químicos agrícolas; e<br />

as alterações no código genético de várias plantas.<br />

Esses aspectos demonstram que, no mundo ocidental, o ser humano buscou atender<br />

a estratégias para garantir a permanente produção de alimentos. Na atualidade, essa opção,<br />

contribuiu para o aumento da disponibilidade de alimentos (principalmente para os que tiveram<br />

e ainda têm maiores condições de acesso e escolhas). Mas, ao lado da desigualdade social e das<br />

alterações do solo (excessiva toxidade pelo uso de agrotóxicos, aditivos químicos industriais e<br />

transgenia alimentar), o saldo é inquietante. Observa-se maior disponibilidade de alimentos, mas,<br />

ao mesmo tempo, há mais de um bilhão de famintos no mundo atual, pela desigualdade social,<br />

racial e pelas situações de guerras.<br />

No Brasil, em virtude da colonização pelos europeus, criaram-se teias de relações na<br />

produção de alimentos a partir do contato dos portugueses com indígenas e negro-africanos,<br />

e do estranhamento em face de distintos hábitos e costumes. Desde o início, a monocultura<br />

açucareira constituiu-se numa violência ao desvalorizar as culturas alimentares locais. De acordo<br />

com Woortman (1987), o ser humano atribui um caráter simbólico aos alimentos, e a comida<br />

torna-se uma construção ideológica, na medida em que articula o natural, o biológico e o cultural,<br />

constituindo-se em “hábitos”. Então, pode-se interpretar como uma forma de resistência a<br />

manutenção de valores alimentares dos indígenas e africanos fundantes de uma culinária em que<br />

se misturam diferentes culturas.<br />

Em termos econômicos, ao longo de cinco séculos, a população trabalhadora no Brasil<br />

vivenciou os impactos de duas revoluções tecnológicas – a agrária e a industrial. Primeiro,<br />

transformou-se o modo de produção indígena em monocultura açucareira, que prosperou com<br />

a força de trabalho de escravos africanos; depois, introduziram-se máquinas de vapor, petróleo<br />

e eletricidade nas indústrias, atendendo a uma economia voltada à exportação e mantendo uma<br />

agricultura familiar ainda em moldes conservadores. As transformações que se processaram, no<br />

entanto, eram contidas pela classe dominante, de modo que não constituíssem ameaça à sua<br />

hegemonia (RIBEIRO,1996).<br />

Vale destacar que os governos da América Latina (à exceção de Cuba), desde a década de<br />

1950, com a instabilidade econômica, a seca de créditos e a queda do poder aquisitivo da maioria<br />

da população, estimularam as suas indústrias a aderirem às orientações políticas do mercado<br />

financeiro internacional. Essa estratégia foi decisiva para impor novo modelo de desenvolvimento,<br />

concentrador de renda, em nome da liberdade do comércio ou do movimento dos capitais. Os<br />

conselhos e as cartas de intenções dos fundos bancários internacionais não só proporcionaram<br />

empréstimos aos países de economia dependente (a exemplo dos latino-americanos), como<br />

subordinaram suas políticas internas (BOURDIEU, 1989).<br />

No Brasil, verificam-se acentuados contrastes entre pobreza e riqueza, apesar das projeções<br />

do aumento médio do produto interno bruto (PIB). Essa questão está intimamente relacionada à<br />

economia mundial, o que significa a existência de altas taxas de juros sobre as dívidas dos países de<br />

economia dependente, e que subordinam as questões sociais à esfera da globalização.<br />

Desde a década de 1960, consolida-se a modernização conservadora da agricultura articulada<br />

à necessidade imanente da industrialização. A produção agrícola é mais valorizada para atender ao<br />

mercado externo, reduzindo a cada dia a participação do trabalhador rural em grandes fazendas de<br />

soja e outros produtos para exportação. Nesse sentido, constata-se que a produção da fome crônica<br />

no País está fundada na desarticulação da produção rural e no processo de concentração urbana de<br />

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