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Alimentos Regionais Brasileiros<br />

4 Biodversidade para a<br />

alimentação e nutrição<br />

O uso e a importância da biodiversidade na alimentação e na nutrição remontam à própria<br />

história da civilização. De fato, o uso da biodiversidade se materializou com a domesticação das<br />

plantas e dos animais ao longo dos tempos, e com o manejo e extrativismo de produtos da flora, da<br />

fauna e, inclusive, micro-organismos. Esse processo continua até os dias de hoje e forma a base das<br />

atividades agrícolas, pecuárias, pesqueiras e florestais, sendo essencial para a estratégica indústria<br />

da biotecnologia, que envolve a produção de alimentos, cosméticos, fármacos e fitoterápicos,<br />

entre outros produtos. A biodiversidade é, assim, uma das propriedades fundamentais da natureza<br />

e possui imenso potencial de uso econômico, social, cultural e ambiental.<br />

A biodiversidade é também a base natural e essencial para a manutenção e reprodução<br />

dos modos de vida e cultura dos povos e sociedades ditos tradicionais e tribais. Esses povos e<br />

comunidades têm como característica essencial de seu modo de vida uma relação mais estreita<br />

com o ambiente onde se reproduzem social e culturalmente, estabelecendo uma situação de<br />

sustentabilidade nas suas formas de utilização dos componentes da biodiversidade, adaptada<br />

às diversas condições dos ecossistemas nos quais se localizam. Em decorrência desse processo, ao<br />

longo do tempo, foi construído e transmitido de forma tradicional, pela oralidade, um conjunto<br />

de cosmovisões, conhecimentos e práticas (kosmos-corpus-práxis), que conformam saberes<br />

tradicionais e permitem a cada um desses povos e comunidades perpetuarem seu modo de vida.<br />

Nesse contexto, o conhecimento tradicional não se restringe aos organismos, como componentes<br />

da biodiversidade, mas inclui percepções e explicações sobre a paisagem, geomorfologia e a relação<br />

entre os diferentes ambientes físicos e os seres vivos (TOLEDO; BARRERA-BASSOLS, 2010).<br />

Assim, há mais de 10 mil anos, agricultores, povos indígenas e povos e comunidades<br />

tradicionais de todo o mundo vêm utilizando e manejando a biodiversidade, cultivando e<br />

domesticando espécies vegetais e animais, criando variedades e raças que não existiam antes na<br />

natureza, desenvolvendo, assim, diversas tecnologias sociais, diversas formas de agriculturas e<br />

conhecimentos associados ao livre uso da biodiversidade (PACKER, 2012).<br />

Apesar da ampla diversidade de espécies vegetais existentes na natureza, uma parcela muito<br />

pequena dessa diversidade é utilizada pelo ser humano, para os diversos fins, e isso se reflete,<br />

por exemplo, na baixa diversificação dos alimentos. Estudos apontam que a humanidade já teria<br />

utilizado, ao longo da história, entre 3 mil e 10 mil espécies de plantas para atendimento de suas<br />

necessidades alimentícias. Entretanto, a produção mundial de alimentos hoje depende de um<br />

número muito reduzido de espécies, talvez 150 e, mesmo assim, o fato é que apenas cerca de 15<br />

espécies fornecem 80% de toda a energia necessária ao ser humano: duas açucareiras (beterraba<br />

e cana-de-açúcar), quatro produtoras de amido (batata, batata-doce, feijão e mandioca), cinco<br />

cerealíferas (arroz, centeio, milho, sorgo e trigo), duas frutíferas (banana e coco) e duas oleaginosas<br />

(amendoim e soja), sendo que só duas espécies brasileiras, a mandioca e o amendoim, estariam entre<br />

as consideradas mais importantes em âmbito mundial. Tal dependência é ainda maior, uma vez que<br />

somente quatro espécies (arroz, batata, milho e trigo) são responsáveis por mais da metade dessa<br />

energia. Não obstante, cultivos com espécies e variedades locais formam a base alimentar para<br />

centenas de milhões de pessoas e apresentam potencial de nutrição para um número incontável<br />

de outras. Muitas dessas espécies são de extrema importância para as comunidades locais, e a<br />

exploração do potencial dessas espécies é crucial para o alcance da segurança alimentar (CORADIN;<br />

SIMINSKI; REIS, 2011).<br />

Mesmo em relação a esse reduzido número de espécies que formam a base da alimentação<br />

da atual civilização, incluindo aquelas que já sofreram profundo processo de domesticação, é<br />

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