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Ministério da Saúde<br />

Além do tradicional, as novas tecnologias geram nos mercados de consumo novos desejos<br />

e a formação de novos hábitos alimentares, conformando a cultura globalizada dos fast-foods. A<br />

seguir, apresenta-se a compreensão da regionalidade alimentar como um valor do patrimônio, da<br />

identidade e promoção da alimentação saudável.<br />

3.3 Patrimônio alimentar<br />

Antes de entrar na questão que trata do patrimônio alimentar propriamente dito, serão<br />

apresentadas algumas explicações sobre a produção agrícola, visto que os valores culturais fazem<br />

parte das relações sociais e estas necessitam ser explicitadas, desde a produção até o consumo<br />

dos alimentos. De um lado, há uma demanda do mercado capitalista em gerar valores para o<br />

consumidor; de outro, existe o caráter cultural e histórico de preservação de valores da produção<br />

agrícola com base na integração com a natureza, o respeito às características de solo, clima e<br />

ocupação do lugar.<br />

Entretanto, esse processo dependerá significativamente do caráter ideológico das políticas<br />

públicas e dos governantes. Suas ações poderiam recuperar ou não permitir o desaparecimento de<br />

produtos da identidade dos trabalhadores rurais e de suas famílias, nas diversas regiões do País,<br />

como ocorre com a redução da produção de farinha de mandioca e seus derivados, alguns mariscos<br />

que estão condenados a desaparecer pela poluição química nos manguezais e carcinocultura<br />

predadora, bem como a utilização indiscriminada de agrotóxicos.<br />

O capital desempenha uma subordinação do campesinato na medida em que as condições<br />

objetivas do trabalho na agricultura familiar são redefinidas como elementos do próprio<br />

capitalismo, pois os trabalhadores não escapam da subordinação ao mercado (WANDERLEY, 2009).<br />

Estão subordinados à comercialização e à perpetuação do poder político, que utiliza a seca e outras<br />

tragédias sociais para angariar recursos públicos em prol do enriquecimento do governante local<br />

e em detrimento da população carente. Os movimentos sociais e a maior presença do Estado nas<br />

regiões mais pobres têm amenizado essa situação em alguns lugares.<br />

Ainda que haja subordinação do agricultor ao capital, observa-se o sentido de preservação<br />

desse trabalhador rural e de sua família, que, ao manter uma condição de pertencimento da terra<br />

e da produção, fortalecem as relações sociais e as práticas comunitárias. O pequeno produtor, o<br />

camponês, continua exercendo o processo de trabalho nos mesmos moldes antigos: a produção da<br />

terra e a força de trabalho familiar. A mecanização é, em geral, rudimentar e os insumos industriais<br />

reafirmam a mão de obra familiar (WANDERLEY, 2009). A plantação tem o objetivo de, garantir<br />

a sobrevivência e o excedente é destinado à comercialização: feijão, milho, mandioca, verduras,<br />

algumas frutas e criação de pequenos animais.<br />

Os itens alimentares com características regionais são como instrumentos de fomento<br />

e proteção do patrimônio alimentar. Estimula-se, com isso, a valorização social dos produtores<br />

e mantém-se a patrimonialidade de certos produtos do consumo. Para Milton Santos (2000), há<br />

uma tirania da informação e do capital no atual modelo econômico, em que não há interesse<br />

pela preservação de valores tradicionais, mas pela instituição de novos valores, que representem<br />

lucratividade para grandes empresários. Essa questão traz a reflexão de que o patrimônio tem sua<br />

origem com os atores locais, que são os que vivem e produzem, portanto, encontram-se ameaçados<br />

pelo mercado capitalista de muitas maneiras. Cite-se, como exemplo, o uso de receitas culinárias ao<br />

serem ressiginificadas pela técnica e afastarem-se do seu sentido original, quando eram cobertas<br />

de símbolos e crenças (CONTREAS; GRACIA, 2005). Ao perder esse caráter subjetivo, o indivíduo<br />

perde a autoria, o pertencimento, o sentido de territorialidade e o caráter ontológico do comer.<br />

Sobre isso, ao indagar idosos sobre as tradições e o novo, um estudo mostra a perda da<br />

sensação do gosto – ou desgosto – em muitas comidas elaboradas às pressas sem os rituais do<br />

passado (ALMEIDA et al., 2008). Na realidade, trata-se de um assunto que representa o paladar de<br />

um tempo, de um lugar e que se quer preservar. Mais adiante serão oferecidos alguns exemplos.<br />

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