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Alimentos Regionais Brasileiros<br />
A produção agroalimentar deve ser enfocada também em suas dimensões sociais, culturais e<br />
ambientais, e não apenas no aspecto quantitativo, expresso na disponibilidade física de bens. A promoção<br />
de formas sustentáveis de produção agroalimentar, para o mercado doméstico ou para as<br />
exportações, não pode ser vista sem suas conexões com as demais dimensões. Nessa perspectiva,<br />
a criação de condições para a permanência das famílias rurais no campo e, simultaneamente, as<br />
contribuições da agricultura familiar para a segurança alimentar e nutricional são elementos de<br />
grande repercussão econômica, social, cultural e ambiental. Para que isso ocorra, faz-se necessário<br />
vigoroso processo de transição para um modelo de desenvolvimento rural fundamentado na<br />
valorização do patrimônio natural do território brasileiro e no aproveitamento da capacidade de<br />
trabalho e da criatividade da agricultura familiar. A agricultura realizada em unidades familiares é<br />
também a que melhor proporciona a conservação, o uso sustentável e o manejo da biodiversidade<br />
e da agrobiodiversidade (CONSEA, 2004).<br />
Entre os modelos agroalimentares alternativos destacam-se a agricultura orgânica, o<br />
agroextrativismo e a agroecologia, que incluem a sustentabilidade em suas dimensões social,<br />
econômica, ambiental, política, cultural e ética. Usando defensivos naturais e ocupando pequenas<br />
extensões de terra e mão de obra familiar, a agricultura orgânica agrega valores socioambientais<br />
evidentes à sua produção. Há numerosas e bem-sucedidas experiências de transição agroecológica<br />
promovidas por organizações da sociedade civil em todo o Brasil que indicam caminhos promissores<br />
para políticas públicas orientadas para a promoção da segurança alimentar e nutricional e do<br />
desenvolvimento rural sustentável. A agricultura familiar de base ecológica e agroecológica<br />
interrelaciona a atividade agrícola, a biodiversidade e o território, cumprindo papel decisivo na<br />
manutenção das comunidades rurais e do patrimônio cultural que se expressa, sobremaneira, nos<br />
alimentos.<br />
Já o agroextrativismo viabiliza a diversificação produtiva, especialmente junto a povos e<br />
comunidades tradicionais, tais como caboclos, pescadores artesanais, ribeirinhos, geraizeiros,<br />
catingueiros e caiçaras, entre outros, e também aos povos indígenas e comunidades quilombolas.<br />
Ressalte-se que o agroextrativismo e os sistemas agroflorestais contrapõem o modelo destrutivo e<br />
excludente da monocultura extensiva e intensiva. Eles levam em conta o estreito relacionamento<br />
entre os extrativistas, a floresta e seus recursos – solo, água, fauna e flora – e a agricultura, que<br />
se explora tanto para o consumo quanto para o comércio. Esses sistemas comportam estratégias<br />
bastante diversas em termos de processos de desenvolvimento sustentável, contemplam a<br />
manutenção de práticas tradicionais e auxiliam na definição de políticas agrárias.<br />
A biodiversidade dos biomas e ecossistemas tropicais apresenta grande importância para essas<br />
populações que neles habitam, gerando emprego e renda, e enorme potencial econômico, ainda<br />
mal aproveitado. Entre os produtos aproveitáveis está uma grande variedade de frutas, castanhas,<br />
sementes oleaginosas, resinas, gomas, plantas medicinais etc. Produtos provenientes de atividades<br />
extrativistas são de grande importância para a economia rural de países em desenvolvimento,<br />
particularmente para os pobres e as mulheres. Há pesquisas que argumentam que a maior parte<br />
da exploração comercial de produtos florestais não madeireiros é feita de forma que prejudica a<br />
manutenção das funções ecológicas das populações de plantas tropicais, entretanto, sabe-se que<br />
diversas populações humanas que, historicamente, habitam ou habitaram ricos ecossistemas os<br />
mantiveram bem preservados, aproveitando seus recursos e até incrementando sua biodiversidade.<br />
Em geral, o extrativismo desempenha caráter secundário em relação à agricultura e à pecuária,<br />
como atividade produtiva principal, no que se refere à segurança alimentar e geração de renda.<br />
Em alguns casos, no entanto, a atividade extrativa se torna a principal atividade desempenhada.<br />
De qualquer forma, no Brasil, dada a sua imensa gama de produtos de natureza extrativa e sua<br />
densa cobertura florestal, a análise do extrativismo tem grande importância. O extrativismo de<br />
muitos produtos vegetais parece não ser uma atividade econômica atrativa ao grande capital.<br />
As dificuldades em obtenção de escala, padronização, transportes, distribuição e comercialização,<br />
entre outras, fazem com que, por maior que seja a disponibilidade de recursos, estes não sejam<br />
aproveitados, tendendo a serem substituídos por grandes cultivos padronizados e mecanizados.<br />
Para agricultores familiares, entretanto, cuja lógica da diversificação das estratégias produtivas e<br />
comerciais é mais vantajosa, o aproveitamento da biodiversidade nativa insere-se como atividade<br />
complementar viável, tanto para o autoconsumo quanto para a geração de renda, inseridos em<br />
arranjos produtivos locais.<br />
A gestão da conservação da biodiversidade desempenha, portanto, papel essencial e<br />
significativo no desenvolvimento sustentável da agricultura, no qual o fortalecimento de sistemas<br />
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