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Ministério da Saúde<br />
necessário promover a conservação da diversidade genética existente nesses principais cultivos,<br />
com o resgate de material genético altamente diversificado, seja a partir de seus parentes silvestres<br />
ainda encontrados na natureza, seja a partir das variedades crioulas e tradicionais conservadas<br />
on farm nos sistemas agrícolas tradicionais e pelos camponeses. Tal diversidade pode contribuir<br />
significativamente para a produção de novas variedades, mais adaptadas e resistentes às mudanças<br />
climáticas e ambientais, e com maior valor nutricional (CORADIN; SIMINSKI; REIS, 2011).<br />
Nesse contexto, tornou-se essencial a questão da biodiversidade agrícola ou<br />
agrobiodiversidade, que é definida pela Convenção da Diversidade Biológica (CDB), como um termo<br />
amplo que inclui todos os componentes da biodiversidade que têm relevância para a agricultura<br />
e alimentação, e todos os componentes da biodiversidade que constituem os agroecossistemas: as<br />
variedades e a variabilidade de animais, plantas e micro-organismos, nos níveis genético, de espécies<br />
e ecossistemas, os quais são necessários para sustentar funções chaves dos agroecossistemas, suas<br />
estruturas e processos (STELLA; KAGEYAMA; NODARI, 2006).<br />
Consideram-se como agroecossistemas as áreas de paisagem natural transformadas<br />
pelo ser humano para produção de alimentos, fibras, e outras matérias-primas, sendo uma de<br />
suas características a predominância de espécies de interesse para o ser humano. São sistemas<br />
dinâmicos manejados por seres humanos para produção de comida, combustível, energia e<br />
outros bens. Eles estão constantemente em evolução para se adaptar a variações ambientais,<br />
dinâmica populacional, conhecimento e avanço tecnológico, mercados e comércio, e a política<br />
de meio ambiente. Pessoas e sua diversidade cultural são um componente integral para os<br />
agroecossistemas, e a construção do seu sistema e da sua organização social é indispensável para<br />
o desenvolvimento sustentável da agricultura.<br />
Além dos três níveis de complexidade relacionados à biodiversidade – diversidade genética,<br />
de espécies e de ecossistemas –, a agrobiodiversidade apresenta outros elementos essenciais à sua<br />
compreensão. Por se tratar de um componente com forte vínculo com os seres humanos, o conceito<br />
de agrobiodiversidade envolve necessariamente a compreensão de que o elemento humano é a<br />
chave para a diferenciação do que é agrobiodiversidade dentro da biodiversidade. Esse componente<br />
se manifesta por meio de práticas de manejo e cultivo (sistemas de cultivo, de manejo, técnicas<br />
de seleção e de melhoramento de espécies, por exemplo), bem como por tradições e costumes<br />
(preferências, festividades, ritos e religiosidade). O elemento diferencial entre agrobiodiversidade<br />
e biodiversidade pode então ser traduzido essencialmente pela ação do homem, com forte<br />
componente cultural (STELLA; KAGEYAMA; NODARI, 2006).<br />
Assim, uma noção mais ampla de agrobiodiversidade está relacionada a uma gama<br />
de combinações entre quatro níveis de complexidade: diversidade de espécies; diversidade<br />
intraespecífica; diversidade de ecossistemas; e diversidade sociocultural, etnocultural ou<br />
ainda sociodiversidade. Essa concepção associa-se às atuais discussões que envolvem o<br />
desenvolvimento socioambiental sustentável, abrangendo notadamente povos indígenas,<br />
povos tradicionais, comunidades rurais, locais e tradicionais, quilombolas e camponeses, que<br />
possuem vasto conhecimento a partir das formas de uso da terra que vêm sendo transmitidas<br />
desde tempos pretéritos. Sendo assim, tais elementos são importantes para o desenvolvimento<br />
socioambiental sustentável.<br />
O aumento na produção de alimentos é condição necessária, mas não suficiente, para satisfazer<br />
às necessidades futuras. Ele não permitirá progresso significativo no combate à fome e à desnutrição<br />
se não for combinado com medidas de garantia de maior renda e melhores condições de vida para os<br />
mais pobres, particularmente agricultores que praticam agricultura de pequena escala em países em<br />
desenvolvimento. Os ganhos de curto prazo serão compensados por perdas de longo prazo se isso<br />
levar a uma maior degradação dos ecossistemas, ameaçando a capacidade futura de manter os níveis<br />
de produção atuais. É possível, entretanto, melhorar significativamente a produtividade agrícola<br />
onde ela tenha sido deixada para trás e, portanto, aumentar a produção onde ela mais precisa ser<br />
aumentada, isto é, em países pobres e com déficit alimentar, ao mesmo tempo que são melhoradas<br />
as condições de vida de agricultores que praticam agricultura em pequena escala, de forma familiar,<br />
e são preservados os ecossistemas e a biodiversidade (CAISAN, 2012).<br />
O pacote tecnológico da atual modernização agrícola, adotado pelo Brasil a partir do final<br />
da década de 1960, trouxe consigo crescente redução da biodiversidade agrícola e alimentar. Esse<br />
modelo agroalimentar, hegemônico em nível mundial, baseado no cultivo de variedades genéticas<br />
de alta produtividade, na utilização de insumos químico-sintéticos, na mecanização e no recurso<br />
a fontes não renováveis de energia, é o responsável pela crescente deterioração dos sistemas<br />
agrícolas e ecossistemas (SANTOS; TONEZER; RAMBO, 2009).<br />
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