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Número 13 / 14 - uea - pós graduação

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pelo demiurgo Omama, entidade que veio da terra e para ela retornou.Antes da existência humana os ancestrais animais se metamorfoseavamsem parar, tanto que “Omama pesca a filha do monstro aquático Teperesiki (àsvezes associado à sucuri) e casa com ela. Teperesiki decide ensinar-lhe o uso dasplantas cultivadas para que possa alimentar sua filha. Assustado com o barulhoque o sogro faz ao se aproximar da casa, Omama esconde-se, tomando a formade uma barra de ferro, metal (pooxiki) encontrado no chão da mata sob a formade `fragmento do céu caído nos primeiros tempos´. É com uma tal barra de ferroque mais tarde ele vai furar a terra para fazer jorrar água, criando, assim, a redehidrográfica que banha as terras yanomami” 29 .A partir daquela copulação nascem os yanomami, filhos do relacionamentode uma divindade terrestre com um ser aquático. E se não bastasse a origemintimamente ligada com a “mãe” água, o mesmo povo é premiado com umapleura de rios que escoam por todo o território yanomami, originados que forampelo emprego de um “fragmento celeste”, mais tarde enterrado por Omama“nas profundezas da terra, com exceção de algumas ferramentas que fez comele e deixou para os ancestrais yanomami. O metal que Omama enterrou é o`pai do minério´, `a ossatura da terra´, `os pés/raízes do céu´, um tipo de axismundi metálico. O ouro e a cassiterita são formas fracas desse `minério forte´.O verdadeiro `metal de Omama´, que os brancos procuram além dos minérios desuperfície, só é acessível aos napê wakaripê, os `brancos espíritos tatu-canastra´,ou seja, as companhias mineradoras” 30 .Percebe-se então, no limiar histórico do povo yanomami, que a suarelação com a natureza é visceral, interdependente ainda hoje com os elementosda terra, da água e do céu, conjugada com a clara consciência dos malefíciosadvindos da exploração garimpeira para o meio ambiente.No entendimento dos yanomami, o ouro é inofensivo “enquanto forconservado no frio das profundezas da terra”. Mas, ao extraí-lo, “os garimpeirosainda o queimam e o expõem ao sol em latas de metal. Esse aquecimento `mata´ oouro e o faz `exalar´ uma fumaça pestilenta que se propaga em todas as direções.Esse calor patogênico afeta não só os seres humanos, mas também a floresta,que vê seu `sopro´ esvair-se e seu `princípio de fertilidade´ fugir, tornando-seinabitável para seus donos, os espíritos xamânicos (que `possuem´ a floresta)” 31 .Numa tradução xamânica do “efeito estufa” e que restou profetizadapor Davi Kopenawa, a “fumaça-epidemia atinge `o mundo inteiro´... O vento29ALBERT, B. “O ouro canibal e a queda do céu -...”, p. 250.30Ibidem, p. 250.31Ibidem, p. 251.Hiléia - Revista do Direito Ambiental da Amazônia n 0 <strong>13</strong> |Jul - Dez| 2009 n 0 <strong>14</strong> |Jan - Jun| 2010 183livro hileia<strong>13</strong>,<strong>14</strong>.indd 183 12/4/2011 17:33:15

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