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Número 13 / 14 - uea - pós graduação

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Com espíritos alimentados pelo “suco” da floresta, os Xamãs tambéminvocam o princípio da “fertilidade” na atividade agrícola. Davi Kopenawa 35admite o desflorestamento, mas somente depois de cuidadosa pesquisa sobre aqualidade do solo e as reais necessidades alimentares da comunidade. Planta-sebanana, macaxeira, batata, cana, pupunha, mamão e outros gêneros na exatamedida do consumo estimado por determinado tempo, ficando rigorosamenteproibida a comercialização de qualquer produto para fora daquela sociedade.Atendidos esses requisitos, abre-se uma clareira de aproximadamente100 m2. que, a<strong>pós</strong> controlada queimada, destina-se ao roçado. Com a limpezado terreno, aproveitam-se também as árvores abatidas como lenha para o fogoda comida, sob a responsabilidade das mulheres. Sendo boa a colheita naquelaárea, repetem-se os plantios no decorrer de um período não superior a dois anos.Com o esgotamento do solo, abandona-se o local para a naturalrecomposição, partindo-se em busca de outro nas mesmas condições e foradas suas imediações, tudo no mais profundo respeito ao necessário período de“descanso”, que perdura entre dois e três anos. O aldeamento acompanha essamudança, o que faz dos yanomami literalmente um povo nômade “por natureza”.Esses deslocamentos também propiciam certo equilíbrio alimentar emrazão do consumo intercalado de carne de anta, queixada, macaco, catitu,mutum, cotia, paca, nhambu, jabuti e peixes; colhendo-se ainda da florestacastanha, ingá, cupuaçu, cacau, buriti, açaí e outras frutas típicas que abundamna região.Os yanomami conhecem o habitat dos diversos animais, que para elestambém formam “aldeias”. Assim, respeitam os limites territoriais de cadaespécie, bem como os períodos de procriação, sendo defeso o abate dos filhotes.Dentro de uma lógica de reprodução, observam que um determinadonúmero mínimo de espécies deve permanecer naquele espaço para, respeitadoesse limite, concluir que chegou o momento de empreender caçadas ou mesmose fixar em outros territórios, numa distância que não prejudique o repovoamentodos anteriores criadouros. Os cuidados se renovam na atividade extrativista,numa dinâmica de autêntico manejo e respeito ao natural ciclo da vida.Interessante observar que Davi Kopenawa desconhece e se recusa aoperar com a palavra “meio ambiente”, preferindo utilizar “floresta-natureza”35Os procedimentos que doravante serão narrados credita-se a Davi Kopenawa que gentilmenteatendeu este autor na sede da Hutukara (Associação Yanomami), em Boa Vista/RR., para conceder em 20 de novembro p.p. uma longa entrevista que se encontra gravadaem meio magnético.Hiléia - Revista do Direito Ambiental da Amazônia n 0 <strong>13</strong> |Jul - Dez| 2009 n 0 <strong>14</strong> |Jan - Jun| 2010 185livro hileia<strong>13</strong>,<strong>14</strong>.indd 185 12/4/2011 17:33:15

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