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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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incertezas do sistema são muito elevadas, estamos no regime da ciência pós-normal<br />

(Funtowicz e Ravetz, 1997: p. 224).<br />

Para Ravetz e Funtowicz, o peer-review disciplinar funciona bem para a ciência<br />

normal, enquanto a ciência pós-normal deve aceitar a sujeição a um “peer-review estendido”,<br />

baseado no julgamento de “comunidades de pares ampliadas” que envolvam todos os grupos<br />

sociais afetados pelas decisões em jogo. Na formulação de políticas, “o foro para os debates<br />

científicos alarga-se de maneira a incluir, além dos aspectos técnicos, todos aqueles interesses<br />

comerciais ou corporativos que apostam alto no resultado das decisões”. Na ciência pós-<br />

normal os leigos conseguem forçar seu ingresso no diálogo:<br />

Ecologistas, advogados, legisladores e jornalistas – podem, às vezes, até influenciar a<br />

pauta dos temas a debater. […] Os novos participantes não apenas enriquecem as<br />

comunidades tradicionais de pares [...] como são necessários para a transmissão de<br />

habilidades e para a garantia da qualidade dos resultados. […]. Nas condições em que<br />

opera a ciência pós-normal, as funções essenciais de controle de qualidade e<br />

avaliação crítica não podem mais ser realizadas plenamente por um corpo<br />

restrito de especialistas. […] A ampliação da comunidade de pares não é mero gesto<br />

ético ou político (Funtowicz & Ravetz, 1997: p. 228 grifos meus).<br />

1.13. Quem precisa de revolução?<br />

<strong>As</strong> propostas interpretativas resumidas acima proporcionaram um debate bastante acirrado,<br />

tanto entre seus proponentes, quanto entre estes e os estudiosos que não acreditam na hipótese<br />

de uma descontinuidade da ciência 91 . Para estes últimos, a interação entre academia e indústria<br />

foi crucial já no final da primeira Revolução Industrial e, mais ainda, na segunda. A<br />

necessidade de comunicar, de legitimar-se e divulgar a ciência, também não seriam<br />

características de nossa época. Porque advêm dos anos em que a ciência virou atividade<br />

profissional e foi inventado o próprio vocábulo “cientista”: a metade do século XIX<br />

(Castelfranchi e Pitrelli, 2007).<br />

Weingart (1997) pondera que o “Modo 2” de produção de conhecimento nada seria<br />

senão “vinho velho em garrafa nova”. Todas as características que Gibbons, Nowotny et al.<br />

91 Alguns autores tentaram, com metodologia e resultados duvidosos, testar quantitativamente a hipótese de uma<br />

mudança radical na ciência contemporânea. Veja, por ex., Cohen et al. (2001).<br />

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