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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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ealidade destas oscilações, faça, por meio de uma série de vínculos com outros elementos da<br />

realidade, com que este fenômeno [...] fique pouco a pouco compensado, refreado e limitado”<br />

(Foucault, STP: p. 57, trad. minha).<br />

A soberania, diz Foucault, “capitaliza um território”, a disciplina “arquiteta um espaço”<br />

e coloca como problema uma distribuição hierárquica e funcional dos elementos. A segurança,<br />

por sua vez, trata de “regular um meio em função dos acontecimentos”.<br />

Na mesma época em que na filosofia natural torna-se importante o conceito de meio,<br />

em que o cálculo infinitesimal e as equações diferenciais mostram a centralidade da idéia de<br />

campo e de ação à distância, as sociedades “de segurança” de Foucault fazem com que a<br />

economia política lide já não apenas com o indivíduo ou com a soma de indivíduos, mas com<br />

uma “população” cujo funcionamento complexo varia em função da regulação política dos<br />

meios e dos campos de força:<br />

O que é o meio? É o que é necessário para explicar a ação à distância de um corpo<br />

sobre outro. Trata-se, portanto, do suporte e elemento da circulação de uma ação.<br />

(Foucault, STP: p. 41, trad. minha).<br />

Foucault está pensando numa racionalidade em que governar significa participar da imanência<br />

dos fenômenos, conhecer os processos e aprender a manipular e regular parâmetros num<br />

sistema aleatório e complexo, por meio de cálculos de probabilidades, de risco e benefícios.<br />

Conectar-se significa também fazer parte do sistema como um todo, modular sinais e gerir<br />

condições. Obviamente, Foucault é consciente de que esta técnica de governo não funciona<br />

por ser uma mera análise do que acontece. Ela é “ao mesmo tempo uma análise do que<br />

acontece e uma programação do que deve acontecer”. (STP: p. 61-63).<br />

O governo passa, assim, a pensar não tanto ou não só em como controlar “a má índole<br />

dos seres humanos”, mas em administrar as coisas tomando em conta “em primeiro lugar a<br />

liberdade dos homens, o que estes querem fazer, o que estão interessados em fazer” (STP, p.<br />

71). A população é vista como formada por indivíduos racionais, desejantes, que agem<br />

estimando vantagens e desvantagens de suas ações. O homem, com o liberalismo, passa a ser<br />

narrado como um homo oeconomicus, um indivíduo que calcula suas ações para maximizar<br />

lucros e minimizar custos e que, assim fazendo, contribui involuntariamente (graças à mão<br />

invisível da livre competição) para a prosperidade comum. Na nova racionalidade, forçar tal<br />

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