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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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a sociobiologia com as mesmas armas discursivas úteis contra um panfleto de Greenpeace. Em<br />

escala menor, a militância virulenta de Mãe Wan Ho contra a liberação de OGMs no ambiente<br />

não é imediatamente neutralizável como anticiência, já que a polêmica “cientista holística”<br />

possui um doutorado em bioquímica e trinta anos de carreira, nos EUA e no Reino Unido,<br />

como pesquisadora e professora universitária.<br />

Nesses casos, afirmações que não são fruto de loucura nem de ignorância ainda podem<br />

ser rotuladas como “ideológicas”.<br />

3.13.3 “Uma coisa é ciência, outra coisa é ideologia”<br />

Se aparecem cientistas que, mesmo sabendo como funciona o RNA-transportador, afirmam<br />

que algo deve ser discutido a respeito de direitos de propriedade intelectual sobre organismos<br />

e genes, seu discurso pode ser enfraquecido ou deslegitimado pela separação entre “fatos<br />

científicos” e “ideologia” ou “interesses alheios” à ciência e ao progresso (Quadro 11).<br />

No Brasil, o fato de que os membros da Comissão Técnica de Biossegurança<br />

(CTNBio) não são apenas biotecnólogos, mas também especialistas de outras áreas<br />

(agronomia, ecologia, ciências sociais) foi visto por alguns como efeito colateral de uma<br />

postura demagógica ou, no mínimo, “ingênua”. A CTNBio tornou-se uma mistura, dizem<br />

“[...] Os dois pesquisadores [autores do Guia] defendem a<br />

adoção do milho transgênico na agricultura brasileira. Para o<br />

pesquisador Ernesto Paterniani, ‘quem deve ter a liberdade de<br />

escolha é o agricultor’. Ele faz questão de frisar que as barreiras<br />

existentes quanto a este milho no Brasil se devem a interesses<br />

alheios à pesquisa. ‘É preciso ficar claro que uma coisa é<br />

ciência, outra coisa é ideologia’”.<br />

Folha de Londrina, 08/11/06, em ocasião do lançamento do<br />

“Guia do Milho” publicado pelo Conselho de Informações sobre<br />

Biotecnologia (grifos meus).<br />

Quadro 11. Uma coisa é ciência...<br />

alguns biotecnólogos, uma<br />

quimera, abrigando em seu<br />

interior tanto experts “de<br />

verdade” (biotecnólogos e<br />

geneticistas), imunes à<br />

ideologia, quanto seguidores de<br />

interesses alheios à ciência.<br />

Muitas discussões sobre o controle social de novas tecnologias no mercado são retratadas<br />

como fruto da vontade de pôr um freio tout court ao progresso, à ciência, ao desenvolvimento,<br />

enquanto a locomotiva não pode e não deve ser desacelerada, sob pena do “atraso”, do<br />

“déficit”, do “gap”. Uma argumentação freqüente no contexto dos debates sobre OGMs é a<br />

afirmação de que criticar as patentes biotecnológicas significa ser “contra a biotecnologia”<br />

e, logo, contra a ciência. Uma vez que esta lógica consegue afirmar-se no discurso, segue<br />

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