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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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engajamento, feedback; contam a fábula de um dispositivo que não é automático nem<br />

inexorável, mas de todos e para todos, coletivamente dirigido. Trata-se de mera “ideologia”,<br />

mascarando o fato de que as decisões que mais importam nunca são tomadas em<br />

comparticipação, mas pautadas e dirigidas pelos interesses do capitalismo transnacional e<br />

financeiro?<br />

De certo, a retórica da democracia participativa, da transparência, do empowerment, da<br />

e-democracy, da valorização dos “saberes locais” serve, freqüentemente, como uma fachada<br />

por trás da qual há possibilidades muito limitadas de tomada de decisão “de baixo para cima”.<br />

Mesmo assim, slogans e iniciativas desse tipo são um signo do funcionamento neoliberal: a<br />

fisiologia da <strong>tecnociência</strong> se funda no máximo de interação para alcançar o máximo de<br />

penetração e apropriação; se serve de fluxos bidirecionais, de pontos de escuta capilarmente<br />

localizados em todos os níveis. Isso cria um novo tipo de meio, produz novos funcionamentos,<br />

desencadeia situações que não faziam necessariamente parte, a priori, da “lógica” do capital.<br />

Surgem fenômenos aos quais o dispositivo deve reagir com preenchimentos estratégicos, com<br />

recuos e recombinações.<br />

A <strong>tecnociência</strong> se serve da imagem do progresso como locomotiva que não pode e não<br />

deve ser freada quando é preciso despolitizar e automatizar o policy-making, deslegitimando<br />

as vozes críticas. Ao contrário, utiliza a retórica da participação, da transparência e da<br />

inteligência social quando é urgente pacificar ou neutralizar faíscas de conflito. Mas isso não<br />

significa a inexistência de canais através dos quais as práticas dos sujeitos possam gerar<br />

efeitos concretos, retroalimentando o dispositivo. A face interativa da <strong>tecnociência</strong> demonstra<br />

as reações do dispositivo frente ao acontecimento e às microrupturas. Quando o dispositivo é<br />

cibernético e molecular, quando escuta capilarmente, quando reage a movimentos individuais,<br />

dividuais e populacionais, a cada microruptura pode corresponder uma recombinação.<br />

Seria então a potência da <strong>tecnociência</strong> ligada ao que Gilles Deleuze chamou “finito<br />

ilimitado”? Estaria na potência do finito ilimitado e da recombinação o lugar para a liberdade,<br />

para a mutação do entrelaçamento, para uma possível reconfiguração do Hermes neoliberal?<br />

Finito-Ilimitado [Terceira suspeita]<br />

Em seu livro dedicado ao amigo Foucault, Gilles Deleuze (2006) acrescenta um anexo de<br />

poucas páginas. Pequeno, difícil, denso, Sur la mort de l’homme et le surhomme se abre assim:<br />

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