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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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notável.<br />

4.4.1 Cientistas best-selling: lutas epistemológicas sob os holofotes<br />

Muitos cientistas de renome escrevem livros de divulgação científica com ao menos dois<br />

objetivos. Um, declarado: a democratização e difusão do conhecimento, de acordo com a<br />

narrativa liberal e iluminista. Outro, às vezes não explicitado: fortalecer o prestígio do autor e,<br />

em alguns casos, o status e a autoridade de afirmações que, na comunidade científica, não<br />

gozam do apoio que seu autor gostaria. Os exemplos são dezenas. Os esplêndidos livros de<br />

Stephen Jay Gould (1941-2002), modelos de divulgação, além de serem obras de difusão da<br />

“cultura científica”, representam armas poderosas que o paleontólogo utilizou como suporte<br />

do modelo evolucionista por ele desenvolvido com Niles Eldredge: a chamada teoria do<br />

“equilíbrio pontuado”. Em algumas obras, Gould faz também críticas avassaladoras ao<br />

determinismo e reducionismo biológico, ao racismo disfarçado de ciência, à pseudociência, ao<br />

criacionismo, colocando-se na arena de debate político e cultural com a força e o impacto de<br />

um grande cientista.<br />

Stephen Hawking, mundialmente famoso também por causa de sua terrível doença<br />

degenerativa, escreveu alguns dos livros divulgativos mais vendidos do mundo (sobre origem<br />

do tempo e do universo) nunca se esquecendo de defender seus próprios modelo e teorias.<br />

Os best-sellers do matemático Roger Penrose são comícios contra a disciplina da<br />

Inteligência Artificial (ao menos, em sua versão chamada “forte”, que imagina a possibilidade<br />

de construir um computador pensante e consciente). O cientista, que produziu com Hawking<br />

alguns teoremas fundamentais sobre singularidades no espaço-tempo (como o Big Bang e os<br />

buracos negros), direciona seus livros principalmente para uma explicação da mecânica<br />

quântica, com o objetivo de usá-la para “demonstrar matematicamente” a impossibilidade de<br />

construir um computador pensante. A demonstração de Penrose foi criticada e é considerada<br />

inválida por grande parte da comunidade científica. O que não impediu que seus livros<br />

tivessem repercussão internacional.<br />

Analogamente, Ilya Prigogine, Prêmio Nobel de Química, usou sua atividade de<br />

divulgador para defender uma concepção sobre o “fluxo do tempo” considerada por muitos<br />

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