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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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aproveitam a pureza e neutralidade da ciência para retratar um mercado cuja aceleração<br />

também é um bem em si, um “progresso”: para funcionar melhor e servir a nação, a ciência,<br />

como outras atividades, deve incorporar uma racionalidade econômica e um “espírito<br />

empreendedor”. Quanto melhor vai o mercado, melhor pode marchar a ciência e mais<br />

tecnologia será criada e aproveitada. Quanto mais rápido avança a ciência – sempre que for<br />

uma ciência empreendedora, capaz de servir os “interesses da<br />

sociedade” – mais vantagens para o mercado e mais tecnologia<br />

será criada. E assim por diante.<br />

<strong>As</strong> afirmações de cientistas-<br />

empreendedores e policy-makers desenham<br />

quase um mapa deste tipo de enunciações e<br />

mecanismos. Pureza e<br />

universalidade da ciência, centralidade da<br />

técnica e positividade da valorização do<br />

capital são evidentes no discurso público,<br />

bem como é evidente o efeito<br />

propulsivo, des- politizador e legitimador do entrelaçamento<br />

entre eles.<br />

O agenciamento cria efeitos de “contágio” na demarcação<br />

da verdade ou na atribuição de racionalidade para os enunciados. Ser<br />

contra um determinado produto comercial hi-tech pode parecer sintoma de comportamento<br />

“irracional”, ou “anticientífico”. A verdade da ciência fornece efeitos de verdade para a lógica<br />

do capital: criticar o mercado como lugar de verdade pode ser facilmente desqualificado como<br />

“ideológico”, enquanto o papel positivo da aceleração capitalista e tecnológica constitui um<br />

“fato”. Progresso técnico e crescimento econômico são sinônimos de progresso social.<br />

A eficiência técnica é tomada como garantia de que o capitalismo funciona da melhor maneira<br />

possível: a aparente auto-propulsividade da tecnologia contamina a narração da auto-regulação<br />

do mercado, justificando ambos e invisibilizando a possibilidade de escolhas e conflitos.<br />

Para que o discurso da <strong>tecnociência</strong> funcione desta maneira, a recombinação e a re-<br />

formulação narrativa de elementos vindos de esferas diferentes são fundamentais. A maravilha<br />

renascentista para os novos mundos que se abrem ao olhar do filósofo natural, bem como o<br />

157<br />

Figura 20. Metáfora de<br />

colágeno... Três hélices... E<br />

alguns elementos conectivos

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