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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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é de que – na “economia baseada no conhecimento” – o sistema de C&T passa a incorporar<br />

um “estrato a mais”, caracterizado pela ação de alguns grupos específicos dentro das<br />

universidades, das empresas e dos governos, que se juntam para encarar os problemas criados<br />

pelo contexto econômico e social. Diferente de modelos clássicos (como o chamado Triângulo<br />

de Sabato, em que o Estado é o ator preeminente em impulsionar o desenvolvimento<br />

tecnocientífico), a hipótese da tripla hélice imagina que, na fase atual, a interação desta tríade<br />

pode criar novos atores institucionais híbridos. Neste processo, nem as empresas nem os<br />

estados e, sim, as universidades “podem ter um papel central na inovação, em sociedades cada<br />

vez mais baseadas no conhecimento” (Leydesdorff & Etzkowitz, 1998).<br />

Etzkowitz (1998) fala também de uma “capitalização do conhecimento” em ato. <strong>As</strong><br />

universidades, afirma, estariam incorporando como parte de sua missão o desenvolvimento<br />

econômico e social. A “universidade empreendedora” que está emergindo integra como<br />

função o desenvolvimento econômico. Os cientistas podem juntar dois objetivos: a procura da<br />

verdade e ter lucros.<br />

Sheila Jasanoff (2003) enfoca outro aspecto da <strong>tecnociência</strong> contemporânea, vale dizer,<br />

sua relação com a regulação política e as necessidades sociais. O “contrato social americano<br />

para a ciência”, caracterizado pela proposta de Vannevar Bush e a subseqüente criação da<br />

National Science Foundation, consistia na garantia de recursos governamentais e autonomia<br />

para a ciência, “em troca de descobertas, inovações tecnológicas e recursos humanos<br />

treinados”. Tal contrato começou a entrar em crise na década de 1980. Hoje, uma parte<br />

importante da ciência contemporânea seria “ciência reguladora” (regulatory science), isto é<br />

pesquisa dirigida com o fim de enfrentar e regular específicas questões sociais, tais como<br />

a avaliação de riscos e impactos (Jasanoff, 1995). Esta ciência teria características peculiares.<br />

Ela não reconhece como relevante a distinção entre uma pesquisa “de base” e “aplicada”.<br />

Nela, a avaliação de qualidade, a construção de “boa ciência”, se faz por meio de um peer-<br />

review não convencional: as “comunidades de pares” são formadas às vezes por especialistas<br />

de diferentes disciplinas e que enfocam variados aspectos de qualidade e accountability da<br />

pesquisa (Jasanoff, 2003).<br />

Com outra abordagem, mas também enfocando o aspecto das relações entre ciência e<br />

outras instituições sociais, Silvio Funtowicz e Jerome Ravetz (1997) vêem o surgimento de<br />

uma ciência “pós-normal”. A ciência, até agora tida “como mola propulsora do progresso<br />

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