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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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<strong>tecnociência</strong> suscita e mobiliza fluxos em que corpos, desejos, dados, vidas contribuem, em<br />

várias esferas, para a aceleração e o aprofundamento da apropriação. O dispositivo<br />

tecnocientífico possui uma extraordinária robustez e uma capacidade formidável de incorporar<br />

instâncias antagonistas, enunciados subversivos, capturando e ativando a vida em todos os<br />

níveis.<br />

Acontecimentos, preenchimentos e recombinações no dispositivo [Segunda<br />

suspeita]<br />

Tudo isso precisa ser problematizado. Não era inevitável, nem óbvio, que a <strong>tecnociência</strong><br />

surgisse e que assumisse a forma que conhecemos. A ciência não surgiu como mera<br />

conseqüência das necessidades ou da lógica do capital. <strong>As</strong> técnicas – até mesmo as que<br />

surgem no começo da ciência moderna e durante a revolução industrial – não tiveram<br />

necessariamente um papel ligado à extração de mais-valia 310 .<br />

Para Foucault, entre os elementos de um dispositivo existe um jogo feito de<br />

modificações de função e mudanças de posição. Este jogo leva a uma formação dinâmica que<br />

“em um determinado momento histórico, teve como função principal responder a uma<br />

urgência”, mas que também pode mudar, aliás, funciona mudando, avançando, recuando,<br />

reformulando-se.<br />

Um dispositivo possui, certamente, características “inerciais”: surge respondendo a<br />

certa exigência e, uma vez constituído, cristaliza e reproduz sua existência. Mas a este<br />

funcionamento em parte automático também corresponde uma interface que recebe feedbacks<br />

e modulações multíplices. A gênese de um dispositivo, diz Foucault, tem dois momentos<br />

essenciais. Primeiro, há a predominância de um objetivo estratégico, em que o dispositivo<br />

estabelece seus pilares de fundação. Em seguida, o dispositivo se constitui como tal e, diz<br />

Foucault, “continua sendo dispositivo”, continua maquinando com base na interação com as<br />

reconfigurações da realidade em que é situado. <strong>As</strong>sim, diz o filósofo (Foucault, 2006, MP: p.<br />

245-247), há um processo de “sobredeterminação funcional”, pois cada efeito, positivo ou<br />

negativo, desejado ou não, estabelece uma relação de ressonância ou de contradição com<br />

310 O trabalho assalariado nas fábricas surgiu antes da maquinização das mesmas. A máquina a vapor, por exemplo, foi<br />

capturada e usada nas oficinas capitalistas relativamente tarde. O cartão perfurado foi usado por Vaucanson para<br />

divertir a aristocracia com seus autômatos. Foi cooptado nas famosas máquinas de tecer de Jacquard quando as fábricas<br />

e a divisão de trabalho capitalista já haviam dominado a produção têxtil.<br />

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