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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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uma coisa para cada palavra proferida. Era pedido aos membros de Royal Society “uma<br />

maneira simples, nua, natural de falar, expressões nítidas, sentidos claros, uma facilidade<br />

“[...] O texto, assinado pelo criador da ovelha Dolly, Ian<br />

Wilmut, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, e outros<br />

sete cientistas, procura chamar a atenção dos envolvidos com os<br />

avanços da genética. Segundo os pesquisadores, o debate que<br />

ocupa as páginas de jornais deve passar a ser discutido<br />

apenas no âmbito acadêmico. [...] ‘Concordo plenamente com<br />

a posição colocada na carta. Acho que os debates éticos têm<br />

que ser discutidos em âmbito acadêmico. Mesmo porque,<br />

dependendo da situação, julgar o que é ético ou não pode ser<br />

muito complexo’, disse Mayana Zatz, coordenadora do Centro<br />

de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo<br />

(USP) [...]. <strong>As</strong> pesquisas realizadas na Coréia do Sul pela<br />

equipe de Woo-Suk Hwang, da Universidade Nacional de Seul,<br />

divulgadas em maio, foram consideradas um dos grandes<br />

marcos científicos da genética [...] ‘Particularmente, não acho o<br />

professor Hwang antiético. Foi uma pena que ele tenha se<br />

demitido da direção do Centro Mundial. Ao condená-lo, a<br />

questão que fica é: o mundo teve uma vitória ética ou foi a<br />

ciência mundial que perdeu?’, indaga Mayana. [...]”<br />

Geraque, Eduardo. “<strong>As</strong>suntos internos”, Agência Fapesp.<br />

6/12/2005.<br />

Quadro 9. <strong>As</strong>suntos internos<br />

208<br />

natural [...], preferindo a<br />

linguagem dos artesãos, dos<br />

homens do campo, dos<br />

mercantes, à dos Sábios e dos<br />

Filósofos” (Sprat, 1667; trad. e<br />

grifos meus).<br />

A ciência moderna, em<br />

suma, imagina-se fundada no<br />

debate público, aberto, cético,<br />

livre, com linguagem clara e<br />

imparcial. Mas a <strong>tecnociência</strong> tem<br />

ao centro de seu discurso a<br />

imagem do saber científico como<br />

um templo. O debate fica reservado<br />

aos competentes, aos que sabem. A<br />

<strong>tecnociência</strong> divulga, difunde,<br />

democratiza seus saberes-poderes<br />

para o público “leigo” (externo ao templo), depois que as controvérsias e os debates são<br />

resolvidos entre cientistas; apenas quando, para usar a imagem de Bruno Latour, a caixa preta<br />

está fechada (Latour, 1998: p. 5; p. 105-109; p. 177).<br />

Na fala de muitos físicos a respeito da energia nuclear, como na fala de muitos<br />

biotecnólogos a respeito dos transgênicos, parece óbvio, automático, que os únicos inputs<br />

legítimos que deveriam orientar as decisões políticas são os “dados científicos”. Aqueles<br />

proferidos por eles. É fácil enxergar aquele que para Foucault é o mais evidente e mais<br />

familiar entre os procedimentos de exclusão, a interdição do discurso:<br />

Sabe-se bem que não se tem direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em<br />

qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de qualquer coisa.<br />

Tabu do objeto, ritual da circunstância, direito privilegiado ou exclusividade do sujeito<br />

que fala […] (Foucault, OD: p. 9).

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