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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Sinergias, eficiência, spin-off 77 , sucesso/fracasso ganham centralidade na prática e no<br />

léxico cotidiano de muitos cientistas (Ziman, 2000). Enquanto isso, alguns economistas podem<br />

se declarar preocupados, por exemplo, com a “queda de produtividade” do sistema ciência,<br />

entendido como “o maior exercício de problem-solving da humanidade” (Tainter, 1996).<br />

Quando o conhecimento avança, “o trabalho que resta a fazer é cada vez mais especializado”,<br />

os problemas a ser enfrentados são “cada vez mais caros e difíceis para resolver” e,<br />

consequentemente, “investimentos crescentes em pesquisa produzem rendimentos marginais<br />

decrescentes”. Por exemplo, se medida pela quantidade de dinheiro investida a cada pedido de<br />

patente, ou pelo número de pesquisadores ativos para cada pedido de patente, “a produtividade<br />

de alguns tipos de pesquisa parece estar declinando” (Tainter, 1996). O mesmo acontece<br />

estimando o “rendimento” do sistema medicina com base no aumento da expectativa de vida<br />

por unidade de dinheiro gasto.<br />

No momento em que a ciência deve ser parte importante de uma racionalidade de<br />

governo neoliberal, o isolamento clássico do cientista “puro” frente à sociedade, sua<br />

impermeabilidade política, a neutralidade e universalidade do conhecimento por ele/a<br />

produzido, começam a vacilar:<br />

Nos estágios iniciais do desenvolvimento da ciência, os cientistas tinham uma<br />

justificação relativamente boa para a não intervenção nas questões práticas da<br />

sociedade. [...] Os cientistas até então podiam dizer, tal como uma galinha sentando<br />

em seus ovos, “Façam o que querem, mas me deixem em paz! Estou chocando um<br />

pinto notável […]”. Em nossos dias, este tipo de raciocínio é pura hipocrisia. O pinto<br />

notável saiu de seu ovo e precisa de comida. Isolá-lo do ambiente agora significaria<br />

deixá-lo morrer de fome (Turchin, 1977: cap. 14; trad. minha).<br />

Em suma, na segunda metade do século XX, as políticas de C&T nos países industrializados<br />

mudam de maneira bastante marcada: os governos tentam reformar os processos de produção<br />

de conhecimento científico e técnico em acordo com os conceitos de flexibilidade, eficiência,<br />

produtividade promovidos pelo capitalismo transnacional. Mas como “reformar” os processos<br />

da ciência?<br />

77 Veja nota 10, p. 13.<br />

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