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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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a primeira se produz na época da Segunda Guerra Mundial, fundamentalmente nos<br />

Estados Unidos de América [...] Um dos primeiros teóricos desta revolução [...] foi<br />

Vannevar Bush [...] Esta forma de organizar a pesquisa se estendeu à Europa e a<br />

países como a União Soviética, com o lançamento do Sputnik, exemplo mais<br />

ilustrativo da megaciência [...] A segunda fase surge a partir de uma crise da Big<br />

Science militarizada dos anos 1965-75 [...] A partir dos anos 80, com a administração<br />

Reagan se produz uma reestruturação da Big Science [...] que agora envolve mais<br />

intensamente o setor privado (ibidem, trad. minha)<br />

Criticando essa virada, Slaughter e Rhoades (2004) falam de uma era de “capitalismo<br />

acadêmico”: ao longo do processo de globalização, a educação superior – nos Estados Unidos<br />

e Grã Bretanha – parou de ser uma arena de policy relativamente autônoma, para se<br />

transformar numa parte da política econômica. A transição, de acordo com os autores, se deve<br />

ao fim da Guerra Fria e às novas possibilidades apresentadas pela propriedade intelectual<br />

numa era de hiper-capitalismo, e pela possibilidade de lucro no setor de serviços.<br />

Silvio Funtowicz e Jerome Ravetz (1997) afirmam que a ciência contemporânea estaria<br />

funcionando hoje num regime de apropriação e negociação social de tipo “pós-normal”,<br />

caracterizado pela avaliação da pesquisa por “comunidades ampliadas de pares”. Ainda<br />

John Ziman (2000), físico da matéria condensada e sociólogo da ciência, acreditou, pelo<br />

contrário, que a ciência estaria se tornando “pós-acadêmica”. “Em menos de uma geração”,<br />

escrevia no final do século XX, “temos assistido a uma radical, irreversível, mundial<br />

transformação na maneira com que a ciência é organizada, gerida, executada” (Ziman, 2000:<br />

p. 67; trad. minha).<br />

Ainda para Michael Gibbons, Helga Nowotny e seus colegas (Gibbons et al., 1994;<br />

Nowotny et al., 2003) estaríamos assistindo à formulação de nada menos que um “novo<br />

contrato social entre ciência e sociedade”, um “novo paradigma da produção de<br />

conhecimento”, que seria socialmente distribuído, orientado pela aplicação,<br />

transdisciplinar, sujeito a múltiplas responsabilidades e caracterizado por três tendências<br />

importantes: mudanças de prioridades na pesquisa, comercialização e responsabilidade social.<br />

(Nowotny et al., 2003: p. 179 segs.).<br />

O que é interessante é ler estes múltiplos, contraditórios olhares sobre as placas, as<br />

falhas, os movimentos tectônicos da ciência, de maneira reflexiva, como enunciados que<br />

fazem parte integrante do próprio dispositivo da <strong>tecnociência</strong>. Examinar em ação os<br />

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