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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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pode e não pode ser dito, o que é certo ver, dizer, fazer. O dispositivo é um objeto estratégico.<br />

A relação que existe entre os elementos que constituem um dispositivo pode servir para<br />

“justificar ou mascarar uma prática que permanece muda”, mas também pode “funcionar como<br />

reinterpretação desta prática, dando-lhe acesso a um novo campo de racionalidade”. (Foucault,<br />

2006, MP: p. 244).<br />

Para Foucault, em suma, repressão e ideologia não são duas formas puras em que se dá<br />

o governo das pessoas. Para ele, é preciso mais que isso: é preciso saberes específicos (p. ex.,<br />

a criminologia) que definem verdades a partir das quais o discurso (penal) pode definir<br />

expressões (a delinqüência) e podem ser projetadas instituições (a prisão) para a gestão<br />

estratégica do fenômeno. É preciso não apenas subjugar e castigar, mas modular por dentro a<br />

própria constituição dos sujeitos, seus desejos, seus objetivos, seu cuidado de si. Por isso,<br />

segundo Deleuze, em A Vontade de Saber Foucault dá mais um passo, crucial, identificando a<br />

terceira grande dimensão do dispositivo: além de funcionar baseado num regime de poder e na<br />

interação com uma formação de saber, o dispositivo também possui a potencialidade de<br />

interagir com a constituição do sujeito: os dispositivos já não se limitam a ser normalizadores,<br />

tendem a ser constituintes da subjetividade. Já não se limitam a formar saberes, são<br />

constitutivos de verdade. Já não se limitam a “categorias”, negativas (loucura, delinqüência<br />

etc.), mas também a categorias consideradas positivas, como a sexualidade (Deleuze, 1994).<br />

Em outras palavras, Foucault “descobre as linhas de subjetivação” (Deleuze, 1990):<br />

“Pertencemos a certos dispositivos e neles agimos”. Eis porque Deleuze resume dispositivo<br />

como “máquina de fazer ver e de fazer falar” e Giorgio Agamben (2006) vê nele uma<br />

“máquina de governar”.<br />

Através do dispositivo, objetos se vêem e se definem, comportamentos são modulados<br />

e influenciados não somente por meio de sistemas de castigos exemplares ou da violência<br />

direta, mas também pela própria interação com as técnicas de si, as práticas com as quais o<br />

sujeito cuida de si mesmo:<br />

Todo dispositivo implica, de fato, um processo de subjetivação sem o qual o<br />

dispositivo não pode funcionar como dispositivo de governo, mas se reduz a um mero<br />

exercício de violência. [...] O dispositivo é, então, antes de tudo uma máquina que<br />

produz subjetivações e, somente enquanto tal, é também uma máquina de governo.<br />

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