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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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C&T. Bush, embora fosse, como é hoje Craig Venter, um idealizador da livre iniciativa, um fã<br />

do individualismo contra a centralização burocrática, e embora exaltasse a sabedoria de<br />

poucos sobre a burrice do poder das massas, não tinha dúvida de que a tecnologia e o mercado<br />

fossem impulsionados, principalmente, a partir de generosos financiamentos estatais para uma<br />

livre, intensa “pesquisa de base” 37 , não instrumental, não direcionada por autoridades políticas<br />

ou interesses econômicos diretos. De fato, os dois elementos que norteavam tanto a análise<br />

conceptual, quanto a proposta política de Bush eram o conceito de pesquisa básica e a idéia de<br />

que esta seria precursora do progresso tecnológico:<br />

A pesquisa de base é efetuada sem pensar em fins práticos. Tem, como resultado,<br />

conhecimento em geral e uma compreensão da natureza e de suas leis. Esse<br />

conhecimento geral fornece os meios de responder a um grande número de<br />

importantes problemas práticos […] O cientista que faz pesquisa básica pode estar<br />

absolutamente desinteressado nas aplicações práticas de seu trabalho, mas o<br />

progresso do desenvolvimento industrial pode estagnar caso a pesquisa básica seja<br />

longamente negligenciada […] Hoje, mais do que nunca, é verdade que a pesquisa<br />

básica é o marca-passo do progresso tecnológico. (Bush, 1945, trad. e grifos<br />

meus).<br />

A proposta de Bush se baseava, em suma, no célebre e hoje criticado modelo linear em que a<br />

tecnologia é vista, principalmente, como ciência aplicada e os progressos científicos são<br />

pensados como a fonte principal (Stokes, 2005: p. 27). Especialmente a partir da década de<br />

1970 e 1980, tal modelo começou a ser visto como uma rudimentar aproximação na descrição<br />

de alguns dos processos de interação entre ciência e tecnologia. A tecnologia, dizem muitos<br />

(Howitt, 2003; Rosenberg, 1982; Brooks, 1994), não é de forma alguma sinônimo de ciência<br />

aplicada. Em muitos casos (e em muitos momentos históricos de forma prevalecente), ciência<br />

e tecnologia tiveram caminhos e avanços quase independentes 38 . Em outros casos, a tecnologia<br />

chegou antes da ciência:<br />

Essa visão [do modelo linear] exagera consideravelmente o papel desempenhado pela<br />

37<br />

De acordo com Stokes (2005: p. 17), o próprio termo “pesquisa de base” teria sido inventado por Bush nesse<br />

documento.<br />

38<br />

Por exemplo, segundo Habermas (1986: p. 79-80), “até o fim do século XIX, não se registra uma interdependência de<br />

ciência e técnica. Até então a ciência moderna não contribui para a aceleração do desenvolvimento técnico” (trad.<br />

minha).<br />

33

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