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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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ou uma crescente sutileza e eficiência dos lobistas em colocar temas tecnocientíficos na<br />

agenda. E respondem: “Nossa hipótese é que ambos os fatores têm um papel” (Padilla e<br />

Gibson, 2000, p. 357). Em 2001, o governo britânico lança o programa “Science Meets<br />

Politics”. A idéia é escolher duplas formadas por um cientista e um membro do Parlamento.<br />

Cada pesquisador transcorre um tempo com o político, em seu escritório ou nas Câmaras,<br />

enquanto o político passa um tempo com o cientista acompanhando os experimentos e o<br />

trabalho diário. Em 2003, Lord John Sainsbury of Turville, na época subsecretário de Estado<br />

para o Departamento de Comércio do Reino Unido, festeja o aniversário da iniciativa<br />

comentando: “Se queremos melhorar o diálogo entre cientistas e políticos, é essencial que<br />

cada lado entenda melhor o outro. É importante que os políticos entendam as bases do<br />

método científico, o fato de que os cientistas devem muitas vezes trabalhar dentro de grandes<br />

margens de incerteza e que não podem fornecer respostas instantâneas. Mas é igualmente<br />

importante que os cientistas entendam que os políticos devem tomar decisões em resposta a<br />

problemas atuais e urgentes, e nem sempre podem esperar os resultados de um estudo de dez<br />

anos de duração” 248 .<br />

Ciência e tecnologia sempre foram atividades politicamente significativas. Além disso,<br />

hoje, dado que a autoridade epistêmica do discurso tecnocientífico é tão marcada, dado que a<br />

governamentalidade funciona baseada na verdade além de na justiça, na eficiência mais que<br />

em valores transcendentes, a <strong>tecnociência</strong>, como regime de veridicção, não pode recortar para<br />

si aqueles espaços de pureza, de inocência, de apoliticidade, de isolamento, de dourada<br />

independência de que gozou, após grandes performances enunciativas e grandes esforços de<br />

demarcação (boundary work, Gieryn, 1983) no final do século XIX e no começo do XX.<br />

Os políticos tentam constantemente puxar para seu lado a colcha científica, para usar<br />

os “fatos” como arma contra a “ideologia” dos adversários, e para justificar suas escolhas.<br />

Cada ONG, partido, coalizão, lobby quer poder citar um pesquisador pronto a jurar que o<br />

efeito estufa não existe, ou que não tem nada a ver com a combustão do petróleo, ou ainda,<br />

pelo contrário, que só construindo um mercado multibilionário de créditos de carbono é que<br />

podemos salvar o planeta.<br />

Junto com o uso político dos artefatos e das teorias científicas, também pode ser<br />

aproveitado politicamente o funcionamento fisiológico da ciência. Controvérsias acirradas,<br />

248 Declaração no encontro “Science Meets Politics”, organizado pela House of Lords, 9 de dezembro de 2003. Royal<br />

Society (2004), p. 17. Trad. minha.<br />

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