10.06.2013 Views

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

século XVII até hoje, a ciência, de preocupação de uns poucos savants e filósofos<br />

naturais europeus, passou a ser a ocupação de vários milhões de especialistas […]<br />

Não é por acaso que a existência da Big Science foi reconhecida primeiramente nos<br />

Estados Unidos, onde crescimento é um estilo de vida, e maior é freqüentemente visto<br />

como melhor (Capshew & Rader, 1992, trad. minha).<br />

Uma dinâmica desse tipo tem conseqüências em parte independentes da forma exata da curva<br />

de crescimento. Não é preciso recorrer à discussão engelsiana no Anti-Dühring (Engels, 1979<br />

[1878], Cap. IV e cap. XII), sobre mutações quantitativas continuadas, progressivas,<br />

acumulativas, que dariam lugar a uma transição estrutural, qualitativa, revolucionária 64 . A<br />

hipótese de que trezentos anos de aprofundamento e enraizamento crescente das estruturas de<br />

produção de conhecimento científico e técnico tiveram conseqüências sociais profundas<br />

parece razoável. A passagem de uma comunidade de poucas dúzias de filósofos naturais no<br />

século XVII para milhões de profissionais tecnocientíficos assalariados de hoje implica uma<br />

reorganização da prática, uma reconfiguração da função social, do impacto e do significado<br />

das atividades cientificas. Com uma série de conseqüências, tais como:<br />

1. O crescimento faz com que um ideal fundamental da ciência, o de constituir um corpus<br />

cumulativo de conhecimentos confiáveis e consensuais sobre o mundo, acessível a<br />

todos e por todos testável e falsificável, acaba sendo de difícil concretização prática.<br />

De fato, é impossível para um cientista hoje acessar, estudar, utilizar concretamente o<br />

conjunto de contribuições que os colegas fizeram em sua própria área. <strong>As</strong>sim como o<br />

número total de artigos publicados cresceu exponencialmente, decresceu a<br />

possibilidade de que estes sejam lidos e utilizados, isto é, que funcionem realmente<br />

como uma contribuição ao conhecimento, como os “ombros” sobre os quais se<br />

apoiarão cientistas do futuro. Para dar um exemplo, a obsolescência acelerada dos<br />

64 Veja também Lenin em O Materialismo Dialético e o Anarquismo: “O método dialético diz que o movimento tem<br />

uma forma dupla: evolução e revolução. O movimento tem a forma de evolução quando os elementos progressistas<br />

continuam espontaneamente seu trabalho quotidiano e introduzem na velha ordem pequenas modificações<br />

‘quantitativas’. O movimento é revolucionário quando esses mesmos elementos, dominados por uma só idéia, se unem<br />

e se lançam contra o campo inimigo, para destruir pela raiz a velha ordem […] e instaurar uma nova. A evolução<br />

prepara a revolução e cria o terreno para esta […]. O espírito da dialética penetra toda a ciência moderna. No que diz<br />

respeito às formas do movimento, no que diz respeito ao fato de que, de conformidade com a dialética, as pequenas<br />

mudanças ‘quantitativas’ conduzem no final a grandes mudanças ‘qualitativas’, essa lei possui igual valor também na<br />

história natural. O sistema periódico dos elementos de Mendeleiev demonstra claramente a grande importância que tem<br />

na história natural o fato de surgirem, das mudanças quantitativas, mudanças qualitativas”. Disponível em:<br />

http://www.comunismo.com.br/textlen3.html (Acesso em abril de 2007).<br />

55

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!