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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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físicos e químicos privada de fundamento 264 . O físico Stuart Kauffman escreve livros de<br />

divulgação em que faz propaganda de um centro de pesquisa non-profit (o Santa Fe Institute) e<br />

de outro, for-profit (o BiosGroup), além de defender sua “versão” sobre o que a ciência da<br />

complexidade deveria ser.<br />

No Brasil, o médico baiano Elsimar Coutinho, já conhecido por sua atuação polêmica<br />

em prol do planejamento familiar, é autor de um livro de divulgação intitulado Menstruação, a<br />

sangria inútil, em que afirma, sem meios termos, que a menstruação é desnecessária e que as<br />

mulheres deviam evitá-la tomando anticoncepcionais. De maneira menos polêmica, outro<br />

médico, Drauzio Varella, também não se limita a “explicar” a ciência, mas defende certas<br />

visões e maneiras de entender a produção de conhecimento científico e seu papel na sociedade.<br />

E Fernando Reinach, divulgando no Estado de S. Paulo, também se posiciona contra aqueles<br />

que atrapalham ou impedem o avanço da ciência, por exemplo atrasando a difusão comercial<br />

dos OGMs.<br />

A lista poderia continuar longamente: cosmólogos como Lee Smolin (defensor da<br />

teoria da existência de infinitos universos), físicos como Brian Greene (apoiando a existência<br />

de super-cordas num mundo com muitas dimensões), biólogos como Richard Dakwins<br />

(idealizador do “gene egoísta” e acirrado crítico de todas as formas religiosas), são todos<br />

difusores de cultura científica e, ao mesmo tempo, militantes de uma certa teoria ou de um<br />

certo estilo de se fazer a ciência. Utilizam a mídia e a indústria cultural como arma em<br />

batalhas políticas ou em lutas epistemológicas que travam no interior da comunidade<br />

científica. Uniram o útil ao agradável: a divulgação do conhecimento estabelecido e<br />

compartido (“o que resta da ciência” quando a caixa preta de Latour é fechada, e as<br />

controvérsias, encerradas 265 ) com a propaganda de suas próprias teorias, de seus valores e de<br />

suas convicções políticas. Como Latour já viu, a fronteira entre o “fora” e o “dentro” da caixa<br />

preta se torna complicada.<br />

264 Estudioso de sistemas complexos, Prigogine se convenceu de que o tempo tem uma direção própria, um fluir<br />

intrínseco e absoluto, de uma maneira que está em contradição com a teoria da relatividade de Einstein e com a<br />

mecânica quântica. Trechos de suas hipóteses sobre a “flecha do tempo” e sobre a origem do universo foram publicados<br />

em revistas científicas de escasso impacto e não tiveram grande êxito na comunidade científica. Porém, tornaram-se<br />

célebres graças aos livros divulgativos, e foram consideradas por muitos comentadores quase como um estado da arte<br />

atual da ciência sobre o tema. Por sinal, a versão de “complexidade” defendida por Prigogine é em contraste com<br />

aquela divulgada por Stuart Kauffman em seus livros sobre o tema.<br />

265 Veja introdução e cap. 1.<br />

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