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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Hoje, a imagem de novidade funciona no interior de outros mecanismos discursivos e<br />

de uma nova ordem. Certamente, as novidades, a velocidade, a aceleração de hoje não são a<br />

mesma coisa que Tommaso Campanella estava sentindo em 1602. <strong>As</strong> rupturas e as novidades<br />

estruturais da contemporaneidade não são uma mera conseqüência ou um desfecho dialético<br />

do novum renascentista. Mas a potência e o enraizamento do imaginário sobre novidade e<br />

aceleração são recursos discursivos importantes para a auto-legitimação da aceleração<br />

tecnocientífica de hoje. Um dos pilares dos efeitos de não-negociabilidade e inevitabilidade da<br />

<strong>tecnociência</strong> se funda na re-escritura de uma enunciação que se estruturara no limiar da<br />

modernidade: a idéia de que o funcionamento da ciência levaria a uma espécie de estado de<br />

inovação permanente, um incessante e crescente brilho de descobertas, invenções,<br />

singularidades.<br />

Tudo que é ciência é visto como novum, e imagina-se que muito do que é novo e útil<br />

vem da investigação metódica da ciência. Configura-se a idéia de um progresso teleológico,<br />

acelerado, não-detível, característico da superioridade do homem sobre os animais – e do<br />

homem ocidental sobre os “selvagens”. “No Ocidente” – diz Donna Haraway (1999b: p. 138)<br />

– “a ciência continua sendo um importante gênero de literatura de exploração e de<br />

viagem”.<br />

Mas tudo isso não é apenas história da ciência. O novo é elemento importante na<br />

constituição da modernidade como um todo (Berman, 2007 [1982]). Na liquenologia do<br />

discurso, novum é um filamento do tecido conectivo que agencia ciência, técnicas e<br />

capitalismo. Novum é o resultado – e ao mesmo tempo a missão – da nova scientia, da<br />

Instauratio Magna, de Bacon, do Método, de Descartes, dos Principia, de Newton.<br />

Contemporaneamente, o novum também está no centro da racionalidade econômica capitalista<br />

e do modo de vida burguês. Especialmente a partir do século XVI, a novidade e aceleração se<br />

tornam experiências intrínsecas à vida das populações urbanas, que crescem<br />

exponencialmente.<br />

Marx e Engels antes e Schumpeter depois, mesmo com objetivos diferentes,<br />

ressaltaram a função crucial da inovação no capitalismo. Para Marx, a unicidade da burguesia<br />

se funda no fato de que ela é a primeira classe dominante cujo interesse não coincide com a<br />

manutenção do status quo (veja, por exemplo, a discussão de Rosenberg, 1974). A essência do<br />

domínio burguês está justamente no dinamismo e na inovação dos instrumentos de produção:<br />

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