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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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<strong>As</strong> filosofias que apareciam no cenário apresentavam-se não mais como comentários,<br />

resumos, glosas das filosofias dos Antigos, mas, orgulhosamente, como novas “ciências”,<br />

novos métodos de pensar. Francis Bacon, por exemplo, propunha uma ciência que, mantendo<br />

como válido o princípio aristotélico de que o conhecimento verdadeiro deve desenvolver-se a<br />

partir da percepção dos sentidos (e proceder gradativamente por generalização), exaltava a<br />

importância dos instrumentos científicos e das máquinas para medir, observar e fornecer mais<br />

dados empíricos possíveis para auxiliar o raciocínio indutivo. Fundamental não era apenas<br />

observar a natureza, mas também manipulá-la, controlar seus fenômenos, dominá-los (Beretta,<br />

2002: cap. 1).<br />

Descartes, por sua vez, embora com método radicalmente diferente do de Bacon,<br />

também reivindicava a novidade absoluta de seu “Método” e criticava a idéia de que somente<br />

nos Clássicos se encontrava o conhecimento. Quem é curioso demais das coisas do passado –<br />

ironizava o francês – torna-se ignorante demais sobre as coisas presentes (Rossi, 2000: p. 58-<br />

59). Blaise Pascal, ainda em 1647, também, lamentava que a autoridade dos Antigos fosse tão<br />

grande que “todas suas opiniões são consideradas que nem oráculos, e até suas obscuridades<br />

são consideradas como mistérios” (ibidem). Os Modernos, acrescentava o filósofo e<br />

matemático, conhecem a natureza mais do que os Antigos, assim têm o direito de ter opiniões<br />

diferentes sem serem considerados injuriosos ou ingratos.<br />

Quando em 1602 Tommaso Campanella escrevia “[...] Há mais história em cem anos do<br />

que houve em quatro mil; e mais livros foram feitos nestes cem do que em cinco mil”, estava<br />

retomando um tema que já se tornara senso comum: mundos novos, cognitivos e geográficos<br />

abriam-se à observação dos homens, causando uma aceleração na história.<br />

3.4 O imperioso avançar do novum<br />

No coração da trama discursiva da ciência moderna, em suma, há a imagem de uma aceleração<br />

ligada (como hoje também se liga) a uma sensação de extraordinárias e, às vezes, inquietantes<br />

novidades. O adjetivo latim novus (novum quando no neutro, ou nova, no feminino) se torna<br />

para os modernos quase o slogan de uma weltanschauung, ou mesmo um imperativo:<br />

A insistência sobre o tema da novidade atravessa toda a cultura européia. Novum<br />

Organum, de Bacon, Nova de universis philosophia, de Francesco Patrizi (1591), De<br />

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