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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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da racionalidade governamental em época neoliberal.<br />

<strong>As</strong> sociedades disciplinares surgem nos séculos XVIII e XIX, e – escreve Deleuze –<br />

“atingem seu apogeu no início do século XX”. Mas Foucault sabia “da brevidade deste<br />

modelo”. Para Deleuze, as disciplinas conheceriam uma crise em favor de novas forças que se<br />

instalavam lentamente e que se precipitariam depois da Segunda Guerra Mundial.<br />

Hoje, continua o filósofo, os meios do confinamento disciplinar moderno encontram-se<br />

em crise: a família, o hospital, a penitenciária, a fábrica, a escola. Os ministros não param de<br />

anunciar reformas supostamente necessárias, da escola, da indústria, da saúde, do exército, da<br />

prisão. À nova conformação que se anuncia, Deleuze dá o nome de controle. Enquanto<br />

Foucault enfoca as técnicas de si como interagindo com as técnicas de dominação – ambas<br />

cruciais para se entender a governamentalidade – e vê no <strong>neoliberalismo</strong> uma racionalidade<br />

econômica que se impõe não somente de fora para dentro, mas também de dentro para fora,<br />

Deleuze afirma que a sociedade de controle não molda o homem, e sim, modula, influencia<br />

comportamentos por meio de retroalimentações que flutuam, flexionam-se em função do<br />

momento e do indivíduo. Os confinamentos da sociedade disciplinar são moldes, mas os<br />

controles são uma modulação, “como uma moldagem auto-deformante” capaz de mudar a<br />

cada instante, conectada com a imanência do sistema:<br />

Isto se vê claramente na questão dos salários [...] Sem dúvida a fábrica já conhecia o<br />

sistema de prêmios, mas a empresa se esforça mais profundamente em impor uma<br />

modulação para cada salário, num estado de perpétua metaestabilidade, que passa<br />

por desafios, concursos e colóquios extremamente cômicos. [...] A fábrica constituía os<br />

indivíduos em um só corpo, para a dupla vantagem do patronato [...] e dos sindicatos<br />

que mobilizavam uma massa de resistência; mas a empresa introduz [...] uma<br />

rivalidade inexpiável […] que contrapõe os indivíduos entre si e atravessa cada um,<br />

dividindo-o em si mesmo. O princípio modulador do "salário por mérito" tenta a própria<br />

educação nacional: com efeito, assim como a empresa substitui a fábrica, a formação<br />

permanente tende a substituir a escola [...] (Deleuze, 1992: p. 220 segs)<br />

Foucault mostra que o homo oeconomicus neoliberal não é apenas um todo a ser disciplinado e<br />

normalizado, um corpo-máquina que deve ser tornado dócil e produtivo, mas é também um<br />

indivíduo ativo, que deseja investir da melhor forma seu “capital humano”. Toda característica<br />

pessoal, seja cognitiva, física, afetiva, seja geneticamente herdada ou socialmente adquirida,<br />

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