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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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chegada na Europa de um imponente número de textos matemáticos e científicos antigos, bem<br />

como a difusão de inovações tecnológicas fundamentais, como as lentes e os relógios<br />

mecânicos, que foram cruciais para o desenvolvimento da ciência moderna.<br />

Nos séculos XIV e XV, mais textos gregos vindo de Constantinopla chegam à Itália e,<br />

de lá, à Europa toda, transformando dramaticamente as idéias em circulação 160 .<br />

Antes do surgimento da imprensa, então, os manuscritos tiveram um papel<br />

fundamental para o pensamento científico e técnico da época. Leonardo da Vinci é, talvez, o<br />

maior exemplo da influência, direta e radical, dos textos helenísticos na gênese do mundo<br />

renascentista (Russo, 1996: p. 364-373). A imprensa de Gutenberg se situa assim não tanto<br />

como causa, mas talvez como um fruto da circulação de textos e da renovada “fome” de<br />

informações da época, ou como um dos fatores desencadeadores das grandes “novidades” dos<br />

séculos XV e XVI, junto com a extraordinária aceleração na circulação de mercadorias e<br />

pessoas ligada às explorações geográficas e à criação de novas rotas comerciais.<br />

Devido, em suma, a processos multíplices, entre o século XV e o final do XVII, os<br />

horizontes do conhecimento e dos discursos se ampliam de maneira substancial. Os<br />

manuscritos bizantinos e, mais tarde, a difusão da imprensa, exponencialmente acelerada na<br />

Europa toda 161 , permitem a re-descoberta de autores em parte esquecidos durante os séculos<br />

anteriores. Arquimedes, Euclides, Apolônio de Perga, Pappus de Alexandria, Hipócrates,<br />

Galeno são lidos, ou, quando já conhecidos, são re-lidos a partir de novas traduções feitas<br />

diretamente do grego e não, como durante boa parte da Idade Média, a partir de comentários e<br />

resumos, ou de uma versão árabe 162 . Esta intensa circulação de textos (uma primeira<br />

“revolução informática”) contribuiu para a revitalização das ciências.<br />

O conhecimento dos clássicos tornou mais complexa a relação dos intelectuais<br />

renascentistas com “os Antigos”. Para os Humanistas do século XV, ler os clássicos – mesmo<br />

criticando a rigidez da interpretação escolástica – significava fazer o retorno a uma civilização<br />

160 Houve, de fato, várias “re-nascenças” científicas (Russo, 1996: cap. 11), o que mostra que usar o termo “revolução”<br />

para um conjunto de processos diferentes que ocorrem num arco de tempo de quatrocentos anos, faz pouco sentido.<br />

Veja Shapin (1996).<br />

161 A primeira Bíblia de Gutenberg é de 1456. Em 1480, já havia tipografias em atividade em cento e dez cidades da<br />

Europa. Vinte anos depois, existiam tipografias em duzentos e oitenta e seis cidades. A estimativa é que, ao longo do<br />

século XVI, tenham circulado cerca de vinte milhões de cópias de ao menos dez mil textos diferentes. No século<br />

seguinte, eram duzentos milhões de cópias (Rossi, 2000: p. 56).<br />

162 Uma edição em grego da obra de Euclides foi publicada em Basiléia em 1533 e traduzida em latim em 1572. Textos<br />

de Arquimedes circularam a partir de 1544. A obra fundamental de Apolônio sobre curvas cônicas apareceu em 1566, o<br />

mesmo ano em que foi impresso o trabalho de Pappus. O Almagesto de Ptolomeu foi publicado em 1538. Hipócrates<br />

foi impresso a partir de 1525, enquanto Galeno circulou já a partir de 1490. (Rossi, 2000: p. 57-58).<br />

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