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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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existe uma demanda crescente de comunicação da sociedade para os<br />

pesquisadores [...] Os Science Shops são criados como mediadores entre grupos de<br />

cidadãos [...] e instituições de pesquisa. [...] São importantes atores na chamada<br />

“pesquisa baseada na comunidade” 295 .<br />

Em suma, se hoje tanto se fala (especialmente no Brasil) da urgência com que o “público<br />

leigo” precisa ser instruído, alfabetizado em ciência e tecnologia, também parece evidente que<br />

a <strong>tecnociência</strong> é que está precisando comunicar, interagir, co-atuar com os públicos. Resta-nos<br />

ver como este aspecto reticular é visível no novo discurso, recombinante, da <strong>tecnociência</strong>.<br />

4.7 O mapa do líquen discursivo: rede, “Kybernétes”, “Ciência<br />

empreendedora”<br />

Nos parágrafos acima, mostrei uma constelação de eventos e práticas que me parecem indícios<br />

interessantes de uma série de ajustamentos. Por um lado (o lado talvez mais óbvio), tais<br />

processos tectônicos iluminam as potencialidades de uma (re-)politização da <strong>tecnociência</strong>,<br />

uma rediscussão de fronteiras movediças entre entidades (ou “pseudo-entidades”: Rabinow,<br />

1999; p. 182) mal definidas: ciência-técnica, natureza-cultura, crença-conhecimento etc.<br />

É óbvio que movimentos sociais, protestos de consumidores, passeatas podem<br />

influenciar em parte (ao menos local e momentaneamente) as políticas de C&T e as trajetórias<br />

da aplicação tecnológicas. A despolitização da <strong>tecnociência</strong>, a tentativa de seu isolamento, de<br />

neutralização, de invisibilização das práticas situadas que a constituem, é uma performance<br />

sem-fim, que nunca funciona completamente, como já foi evidenciado pelos estudos sociais da<br />

ciência (Jasanoff, 2004; Latour 1998 e 2005; Pickering, 2001; Gieryn 1983 e 1987).<br />

Por outro lado (o que é mais interessante), as práticas e os eventos que mapeei são<br />

sintomas da potencialidade de uma reconfiguração das trajetórias epistêmicas e das forças<br />

em jogo. A construção da <strong>tecnociência</strong> pode receber impulsos de sujeitos usualmente<br />

considerados externos ao clube dos insiders, dos credenciados a falar e a atuar.<br />

Uma análise dos fluxos e das práticas discursivas parece confirmar essa impressão. O<br />

mapeamento de estratos e leitmotifs que usei no capítulo precedente para explorar a<br />

295 Em 2008, de acordo com a base de dados do “Living Knowledge” (o network internacional dos science shops)<br />

existiam ao menos cinqüenta dessas entidades, em dezenove países do mundo.<br />

http://www.scienceshops.org/new%20web-content/framesets/fs-about.html. Acesso em março de 2008. Trad. minha.<br />

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