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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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somente baú, fonte de monstruosidades e prodígios, mas também um grande mecanismo.<br />

Explicável. Previsível. Controlável.<br />

Se um elemento importante para o<br />

discurso da ciência está ligado às conotações<br />

renascentistas do novum, na epistémê que se<br />

abre no século XVII assume grande<br />

importância também a concepção de que<br />

filosofia natural significa produção e organização racional do saber, por meio de métodos e<br />

de sistemas, constituindo não somente um arquivo de fenômenos, fatos, curiosidades, mas<br />

também a capacidade de previsão dos mesmos a partir da mensuração, da formalização e do<br />

jogo de hipóteses e deduções. O conhecimento, nas palavras de Foucault, se torna um<br />

“conhecimento da ordem”: “mathesis” e “taxinomia” fazem parte de um novo “projeto de uma<br />

ciência geral da ordem” (Foucault, PC: p. 99 segs).<br />

É no contexto desta passagem que Francis Bacon retrata a ciência como empresa ativa<br />

e varonil, voltada para o “império do homem” sobre uma natureza, feminina e passiva, que<br />

deve ser desvendada, dominada e “conduzida a um casto matrimônio com o homem” (Keller,<br />

1985). A narrativa segundo a qual a ciência produz conhecimento confiável porque possui –<br />

diferente de outras formas do saber – um “método”, também se torna logo um elemento<br />

importante para o funcionamento de mecanismos de demarcação da ciência (Gieryn, 1983) e<br />

de rejeição de enunciados que “não estão no verdadeiro” (veja Cap. 2).<br />

Entre o século XVII e XVIII, tanto o saber quanto a comunidade dos filósofos naturais<br />

assumem uma forma organizada. Trocas epistolares internacionais e a fundação de<br />

“Academias” nacionais 185 permitem aos estudiosos manter-se em contato e trocar informações<br />

preciosas, às vezes de maneira informal, evitando a perseguição política e religiosa.<br />

3.10 Verdade para todos (e todas)<br />

A comunicação é importante, na <strong>tecnociência</strong> de hoje, bem como na ciência moderna, também<br />

para fundamentar a legitimação e validação das idéias. O manifesto da Royal Society –<br />

185 Na Itália, a Accademia dei Lincei nasce já em 1600. A Accademia del Cimento, em 1651. Em Londres, a Royal<br />

Society é fundada em 1660, enquanto na França Colbert convence Luis XIV, em 1666, a financiar a Académie Royale<br />

des Sciences.<br />

195<br />

“Felizmente, a ciência, como a natureza à<br />

que pertence, não é limitada nem pelo tempo<br />

nem pelo espaço. Ela pertence ao mundo, e<br />

não é de nenhum país, não tem idade. Quanto<br />

mais conhecemos, mais sentimos nossa<br />

ignorância; mais sentimos quanto permanece<br />

desconhecido”.<br />

Sir Humphry Davy

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