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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Em três linhas de textos, Campanella oferecia a seu leitor o auto-retrato, em cores brilhantes,<br />

de uma época que se acreditava nova, única, extraordinária, marcada pela aceleração (“mais<br />

história” do que em “quatro mil anos”), pela densidade de conhecimento e informação (“mais<br />

livros” do que em “cinco mil anos”) e por uma tríade “estupenda” que, além de revolucionar<br />

as técnicas, era sinal da unidade fundamental do cosmo e de sua inteligibilidade pelo homem.<br />

Por sua vez, em poucos minutos de fala, Craig Venter mobilizava alguns elementos<br />

fundamentais do discurso da <strong>tecnociência</strong> contemporânea. Evocava, como Campanella,<br />

imagens de aceleração, maravilha, excitação, novidade, de um conhecimento poderoso e<br />

capaz de abrir uma nova era. Ao mesmo tempo, o cientista americano aproveitava alguns<br />

elementos do discurso da racionalidade governamental liberal e neoliberal e os conectava a um<br />

funcionamento, efetivo ou desejado, da <strong>tecnociência</strong> contemporânea.<br />

Entre um discurso e outro, quatro séculos. Entre um e outro, algumas continuidades,<br />

algumas similitudes, algumas importantes fraturas tectônicas e epistêmicas. Elementos que<br />

estavam presentes no discurso renascentista sobre o saber (e sobre seus poderes) evocando<br />

novidades (e velocidades) reaparecem em outro contexto: reescritos, re-proferidos,<br />

recombinados como nos palimpsestos de S. Clemente, mas agora funcionando no interior de<br />

outros dispositivos, servindo outras estratégias, atuando de maneira diferente.<br />

No Capítulo 1, apresentei uma constelação de acontecimentos que sinalizam<br />

ajustamentos no funcionamento da pesquisa científica contemporânea e em suas relações com<br />

o capital. Evidenciei movimentos tectônicos nas normas e no ethos da pesquisa científica, nas<br />

formas e na dinâmica de seus financiamentos, em suas osmoses sociais, em seu papel<br />

econômico, nas maneiras pelas quais é avaliada, regulada, apropriada, bem como no discurso<br />

sociológico sobre suas transformações.<br />

No Capítulo 2, mostrei que essas reconfigurações na <strong>tecnociência</strong> correspondem a<br />

movimentos e rupturas no campo da racionalidade que rege o governo de si (o sujeito como<br />

homo oeconomicus, empresário de si mesmo) e o governo dos outros (a prática governamental<br />

como moduladora da imanência da população e dos fluxos dividuais, com base em cálculos de<br />

eficiência econômica; o “tribunal econômico permanente” como lugar de veridicção etc). Na<br />

passagem do liberalismo (e do fordismo) para o <strong>neoliberalismo</strong> (e para a acumulação flexível),<br />

as relações entre sujeito, estado e economia são reorganizadas, bem como o regime de<br />

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