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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Campos narrativos e tipo de enunciações<br />

Tais estratos se recombinam no agenciamento tecnocientífico contemporâneo com<br />

elementos advindos do ethos liberal e neoliberal. Trataremos destes em detalhe no<br />

capítulo 4. Dentre eles:<br />

O espírito empreendedor, que é visto como intrinsecamente positivo, e o indivíduo<br />

“proativo”, “inovador”, visto como força criadora, vital, em contraste com o Estado,<br />

retratado como um Golem dirigido por uma burocracia estúpida e uma fauna política<br />

incompetente; é enfatizado o valor da competição e da busca por primados<br />

(econômicos, científicos); a racionalidade econômica e o cálculo operatório são<br />

válidos não somente para o funcionamento da esfera do mercado, mas também no<br />

interior do estado e da ciência, que devem ser administrados como uma empresa;<br />

A narração informacional: tudo é informação (e a informação é o bit); tudo é cálculo<br />

(e o cálculo é principalmente um cálculo econômico, de mini-max). Os genes nos<br />

fazem calcular com quem devemos acasalar, como e quando devemos trair, comprar<br />

carros, escrever poemas (o gene egoísta de Richard Dawkins e a evolutionary<br />

psychology, herdeira da sociobiologia); nossa mente é o software do cérebro; nosso<br />

sistema imunológico é programado para fornecer um feedback à entrada de objetos<br />

non-self... 152<br />

O feedback como idéia central num mundo pensado, cada vez mais, como um grande<br />

sistema cibernético, complexo, em rede, onde não há um único, concreto, localizável<br />

ponto de soberania.<br />

154<br />

Elemento<br />

conectivo, topos<br />

ou letimotiv<br />

Empreendedoris<br />

mo<br />

Informação<br />

Rede, Kybernétes<br />

(veja cap. 4)<br />

Nem todos os elementos descritos acima necessitarão de uma análise detalhada. Importante<br />

será ver, na configuração atual, sua força discursiva, sua capacidade conectiva e catalisadora<br />

no entrelaçamento ciência-técnicas-mercado. No entanto, para que o leitor entenda o tipo de<br />

trabalho efetuado, entrarei nos detalhes de algumas das categorias de análise e dos elementos<br />

identificados, para mostrar sua centralidade no dispositivo tecnocientífico, sua gênese e alguns<br />

de seus movimentos e rupturas, a partir de exemplos textuais marcantes.<br />

152 A análise de Donna Haraway sobre a constituição do eu e o discurso sobre sistema imunológico (Haraway, 1999b)<br />

mostra a transição de uma grande narração moderna para uma “espécie de pastiche pós-moderno de centros múltiplos e<br />

periferias”, onde o sistema imunológico se torna “um objeto simbolicamente, tecnicamente e politicamente pósmoderno”<br />

(p. 140). Mas é também possível reler tal análise – e as divertidas ilustrações que a acompanham – como a<br />

reconfiguração de um sistema “de soberania” (o sistema imunológico sendo regulado e determinado pela ação direta de<br />

um único fator), para um de disciplina (uma orquestra em que cada elemento sabe como deve comportar-se), até um<br />

funcionamento “biopolítico” (uma rede de fluxos, informações e retroalimentações em que não há um soberano, mas<br />

multíplices dinâmicas e circuitos de controle).

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