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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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publicações 62 . Mesmo assim, corrigindo os erros, a lei fundamental identificada por Price, de<br />

crescimento exponencial da ciência, foi considerada correta por muitos estudiosos. Vickery<br />

(2000) conclui que, se Price errou, foi em superestimar a taxa de crescimento, mas acertou em<br />

estimar tal crescimento como exponencial: contabilizando o número de artigos publicados,<br />

pelo menos de mil e oitocentos até a década de 1960, o crescimento seria exponencial com<br />

taxa de 3,5% ao ano (isto é, um tempo de duplicação de cerca de vinte anos), para um total<br />

cumulativo de artigos publicados de cerca de trinta milhões em 1970.<br />

Outros autores (Wolfram et al., 1990) encontraram tempos de duplicação diferentes, ou<br />

utilizaram diferentes curvas matemáticas para interpolar os dados, tais como as logísticas (que<br />

começam com um andamento exponencial, mas chegam a um limite superior) ou as curvas<br />

power-law (onde o crescimento é acelerado, mas não de tipo exponencial, e ct , e, sim, de<br />

potência: t c ). Em suma, hoje sabemos que o crescimento pode não ter sido exponencial. Os<br />

parâmetros escolhidos por Price para medir o crescimento da ciência podem ser discutíveis,<br />

como também a definição operacional de “cientista” 63 , ou de “descoberta importante”. No<br />

entanto, tudo isso é pouco relevante aqui. O que é central, na intuição de Price, é que, em mais<br />

de três séculos de atividade, aquela que chamamos de ciência cresceu de forma espantosa, seja<br />

do ponto de vista da acumulação e taxa de produção de novos conhecimentos, seja do número<br />

de pessoas envolvidas ou dos recursos econômicos a ela devotados. E tal crescimento<br />

aconteceu, por longos períodos, não de forma linear (ou seja, o número de artigos publicados<br />

aumentando em uma quantidade constante a cada ano) e, sim, geométrico ou exponencial (ou<br />

seja, o número sendo multiplicado a cada ano por uma quantidade x, e aumentando, então, a<br />

cada ano mais rapidamente). Quanto maior se torna a ciência, mais rápida ela cresce. O que é<br />

relevante aqui não é tanto, então, a forma exata do crescimento, quanto o fato de que,<br />

substancialmente, tal crescimento continuou, e continuou acelerando, ao longo de muito<br />

tempo:<br />

O crescimento é, talvez, a característica histórica mais notável da ciência [...]. Do<br />

62 Tratar a dinâmica das publicações científicas, das revistas, das descobertas, como uma dinâmica de populações<br />

lembra o tipo de racionalidade e de cálculo que caracterizam a passagem – que será analisada no próximo capítulo –<br />

para a sociedade que Foucault chama de “segurança”. De fato, a política de ciência e tecnologia contemporânea mostra<br />

claros sinais de um regime biopolítico governando a produção de conhecimento. Devo estas observações a Marta<br />

Kanashiro.<br />

63 A proposta pragmática do Price é de chamar “cientista” qualquer pessoa que tinha publicado ao menos um paper em<br />

revista com peer-review.<br />

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