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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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No outro extremo da escala social, os operários tentaram aceder à divulgação: na<br />

aquisição de competências técnico-científicas visavam uma maneira para melhorar seu status e<br />

para qualificar-se no mercado de trabalho. (Gregory e Miller, 1998; p. 21). Quando Sylvanus<br />

Thompson deu uma conferência pública em Cardiff, foram instituídos trens especiais para os<br />

trabalhadores das minas, que chegaram em centenas. No Yorkshire, três mil e quinhentos<br />

trabalhadores dos moinhos assistiram suas lectures.<br />

Além disso, muitos visavam na comunicação pública da ciência um instrumento para<br />

alcançar objetivos políticos. Para uma parte da burguesia, a concepção iluminista da ciência<br />

como instrumento de libertação do jugo da opressão e da superstição fazia da divulgação um<br />

dos instrumentos para a modernização dos estados nacionais. De outro lado, os conservadores<br />

imaginavam que a divulgação científica pudesse ser uma forma de justificar a ordem social:<br />

mostrar o admirável ordenamento do cosmo e suas leis podia ser uma útil metáfora da idéia de<br />

uma ordem da sociedade, também decidida por Deus e espelhada, por exemplo, na divisão em<br />

classes (Gregory e Miller, 1998: cap. 1). Os socialistas, ao contrário, encontraram na ciência<br />

um aliado, universalista e materialista, para a libertação das massas.<br />

Enfim, para muitos cientistas e para suas associações profissionais, a divulgação<br />

representava uma ação estrategicamente importante para obter reconhecimento público e<br />

recursos para pesquisa. A propaganda pró-ciência era componente central de boa parte da<br />

atividade científica dos cientistas.<br />

O processo de institucionalização da ciência na Inglaterra do século XIX não foi<br />

repentino, nem indolor. Os patrocínios para a pesquisa se revelaram, desde o início das<br />

atividades, instáveis. Os salários para os poucos pesquisadores eram baixos. Quando, graças<br />

aos esforços políticos e aos discursos públicos de Davy, Faraday, Babbage, nascia a BAAS,<br />

assumia a tarefa de definir as distinções disciplinares da ciência e de fazer lobbying para<br />

incentivá-la. Este processo também se revelou demorado. Somente na segunda metade do<br />

século XIX os esforços dos cientistas ingleses, junto com os visíveis resultados da ciência<br />

aplicada, transformaram a ciência numa atividade presente tanto na agenda política quanto no<br />

imaginário popular. Neste processo, a comunicação pública, o “catecismo científico” e a<br />

propaganda tiveram um papel importante:<br />

<strong>As</strong> sociedades científicas foram utilizadas pelos cientistas em suas tentativas de se<br />

comunicar com grupos do mundo externo [...]. Muitas vezes, havia um motivo explícito<br />

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