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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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contemporânea como eventos abrangentes, únicos e sem precedentes históricos” é, diz Shinn,<br />

um erro comum. Enfatizar a primazia da pesquisa de base ou a autonomia acadêmica como<br />

características essenciais da ciência moderna é um erro. Na verdade, analisando as<br />

características da ciência nas décadas entre os séculos XIX e XX, é fácil observar que a<br />

interação com a indústria ou a relação entre ciência privada e pública sempre fizeram parte da<br />

ciência, recompondo-se em configurações diferentes.<br />

Ainda, Edqvist (2003) sustenta que o Modo 2 não representaria um “novo contrato<br />

social”, mas o modo tradicional de funcionamento da ciência. E o Modo 1 não seria a ciência<br />

clássica, mas apenas um transitório “fenômeno pós-guerra”, uma criação excepcional surgida<br />

“num período em que as universidades se expandiram rapidamente, constituindo-se um espaço<br />

para uma pesquisa universitária separada das necessidades sociais imediatas”.<br />

Também Steve Fuller (2000), sociólogo da ciência de peso no Reino Unido, acha que<br />

os “modistas” erram ao pensar o Modo 1 como a ciência clássica do século XVII, enquanto o<br />

2 seria típico da segunda metade do século XX. Ao contrário, ambas as modalidades<br />

institucionalizaram-se no século XIX. Segundo ele, também seria superficial a análise dos<br />

proponentes da “tripla hélice”. A fundação do instituto Kaiser Wilhelm, na Alemanha do<br />

século XIX, configurou justamente o tipo interação estado-empresa-universidade que, no<br />

modelo de tripla hélice, seria típico de nossa época.<br />

Em todo caso, o que nos interessa é notar que diferentes autores, especialmente a partir<br />

da década de 80, dedicaram-se ao quebra-cabeça de inventar modelos explicativos de uma<br />

“transição”. A multiplicação de propostas interpretativas, e a polêmica gerada, é sintoma de<br />

que a reconfiguração sofrida pelos mercados e as sociedades industrializadas nas últimas<br />

décadas foi complexa, não inócua, portadora de conflitos e fricções tectônicas e acarretou<br />

conseqüências “geológicas”, tanto na estrutura organizacional, quanto epistemológica, da<br />

ciência, bem como no ethos de seus profissionais.<br />

Não é preciso chamar este processo de revolução. Hoje, há uma reconfiguração no<br />

campo de forças que molda a relação dos saberes com as técnicas e com o funcionamento do<br />

mercado em função da racionalidade econômica e governamental preponderante. Embora<br />

diversas, as enunciações sobre <strong>tecnociência</strong> que analisamos acima são fragmentos de um<br />

discurso e de alguns combates que fazem parte integrante do dispositivo tecnocientífico e que<br />

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