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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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(1994) atribuem a este “novo contrato social entre ciência sociedade” configuraram-se em<br />

outros períodos históricos. Duas características centrais deste suposto novo modo de produção<br />

do conhecimento – seu caráter transdisciplinar e a importância do “contexto da aplicação” –<br />

não seriam hegemônicos e, sim, “baseados em evidências trazidas de setores de pesquisa<br />

extremamente restritos” (biotecnologia, tecnologia da informação, nanotecnologia). Gläser<br />

(2000) concorda. A pesquisa aplicada e direcionada continua convivendo com a pesquisa de<br />

base universitária, que mantém seu peso e sua autoridade epistemológica. Além disso, “a<br />

hipótese de uma total comutação, de uma pesquisa produtora-de-conhecimento para uma<br />

pesquisa dirigida para aplicação pode tornar-se uma profecia auto-realizada, caso seja tomada<br />

como base normativa para políticas científico-tecnológicas”. Em geral, continua o autor, é<br />

verdade que há um grande “desejo na science policy de ganhar mais com menos, isto é, de<br />

cortar o financiamento público para a ciência e simultaneamente obter mais contribuições<br />

científicas ao bem estar social”. Também é verdade que “as condições institucionais da ciência<br />

estão mudando” e que estão sendo feitas tentativas para “direcionar a ciência rumo às<br />

aplicações”. Porém, para o autor, tanto as abordagens de tipo institucionalista (tais como a<br />

tripla hélice, que enfocam principalmente as mudanças no contexto institucional em que a<br />

ciência é construída), quanto as abordagens sobre formas de produção do conhecimento, têm<br />

sérias limitações: o enfoque institucionalista não consegue analisar as mutações<br />

epistemológicas na nova ciência, enquanto o enfoque sobre “modo de produção” prende-se a<br />

análises anedóticas ou descritivas e não demonstra capacidade de inserir num modelo teórico<br />

rigoroso as causas profundas da mudança ou seus efeitos na interação ciência-sociedade.<br />

Segundo Shinn (1999), embora “especular sobre uma suposta redefinição radical da<br />

ciência” tenha se tornado “moda”, os proponentes de uma descontinuidade radical entre a<br />

ciência de nossa época e a precedente cometem o erro de ver as “mudanças” como “mutação”,<br />

isto é, de não perceber que mudança é, desde sempre, uma característica fisiológica da ciência.<br />

A ciência, afirma o sociólogo, é caracterizada “por um constante, porém circunscrito, fluxo”,<br />

seguindo princípios de integração conceitual, de distribuição da força de trabalho científico, de<br />

ocupar nichos de forma oportunista. Tais fatores levariam a uma dinâmica de tipo não-linear.<br />

Alguns elementos podem desaparecer e, sucessivamente, voltar a ser relevantes em novas<br />

formas (Shinn, 1999: p. 157). Hoje, simplesmente, ulteriores novos elementos estariam sendo<br />

enxertados no funcionamento da ciência. Interpretar “algumas transformações na ciência<br />

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