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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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funcionamento da <strong>tecnociência</strong>.<br />

Tais recombinações também ocorrem no discurso da (e sobre a) <strong>tecnociência</strong>. Entre<br />

Tommaso Campanella e Craig Venter, uma série de mutações e rupturas nas condições de<br />

possibilidade dos discursos sobre o saber e a verdade, sobre o governo e o mercado e sobre as<br />

máquinas e o mundo natural levaram à formação discursiva atual, cujo peculiar funcionamento<br />

pretendo estudar nesta segunda parte do trabalho.<br />

Os discursos da ciência, do capital e da técnica afundam suas raízes em camadas,<br />

regras e ordens cuja gênese é complexa e remonta a épocas diversas. Não pretendo estudá-los<br />

em sua totalidade, mas, sim, limitar minha análise a territórios e facetas específicos. Buscarei<br />

identificar os processos e elementos que servem para gerar efeitos de inexorabilidade, de<br />

despolitização, de autopropulsão do conjunto tecnocientífico. Explorarei as regiões e camadas<br />

discursivas onde a <strong>tecnociência</strong> funciona como um “líquen”, em que uma mútua constituição<br />

de discursos bem como efeitos de veridicção e de legitimação recíproca emergem do<br />

agenciamento entre enunciados vindo de racionalidades e regimes de verdade diferentes,<br />

pertencendo à ciência, à técnica e à governamentalidade liberal e neoliberal.<br />

3.1 Um mapa discursivo da inexorabilidade<br />

Monitorar as práticas e captar o discurso: foram as maneiras que escolhi para mapear o<br />

funcionamento da <strong>tecnociência</strong>, seus movimentos e suas recombinações. Como estratégia para<br />

tornar visível a tectônica do discurso na <strong>tecnociência</strong> e suas tecnologias literárias, escolhi<br />

mergulhar no arquivo dinâmico constituído pelo fluxo comunicacional ininterrupto da<br />

<strong>tecnociência</strong>, em busca de elementos recorrentes de leitmotifs, de topoi e metáforas. Tentei<br />

identificar o modo como funcionam os efeitos de inexorabilidade e de necessidade, como é<br />

despolitizada a <strong>tecnociência</strong>, bem como evidenciar a ordem discursiva com base na qual<br />

enunciados são rejeitados ou incluídos no discurso da verdade.<br />

Estudei o discurso da <strong>tecnociência</strong> captando seus ecos, suas variantes, suas repetições e<br />

reformulações no fluxo informativo incessante, semi-anônimo, da mídia, das declarações<br />

públicas, dos relatórios e dos programas de governos, de ONGs, de grupos políticos, de<br />

instituições de pesquisa e de empresas. Os motivos para esta escolha são diversos.<br />

Em primeiro lugar, o discurso público da <strong>tecnociência</strong> não pode ser visto meramente<br />

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