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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Em 1602, em sua eufórica utopia, A Cidade do Sol 142 , o filósofo Tommaso Campanella,<br />

buscando um balanço do século XVI que tinha acabado de se fechar, escrevia:<br />

Há mais história no mundo nos últimos cem anos do que houve em quatro mil; e<br />

mais livros foram feitos nestes cem do que em cinco mil; e [há] as invenções<br />

estupendas do ímã, da imprensa e das espingardas, excelsos sinais da união do<br />

mundo (Campanella, 1941 [1602]: p. 109, trad. e grifos meus) 143 .<br />

Quatrocentos anos depois, em março de 2002, o Commonwealth Club of California 144<br />

convidava o doutor Craig John Venter para proferir um discurso sobre o seqüenciamento do<br />

genoma humano. Venter escolhia este exórdio:<br />

Este é provavelmente o momento mais excitante na história para ser um cientista.<br />

Estamos vivendo no que temos definido como a era genômica. Infelizmente, a<br />

maioria das pessoas não sabe o que é seu genoma. É o conjunto de genes em seus<br />

cromossomos, que vocês herdaram de seus pais. Hoje vivemos num mundo em que<br />

conhecemos a estrutura química de todas as três bilhões de letras de nosso genoma<br />

e, pela primeira vez na história, esta informação está disponível no mundo via<br />

internet, em computadores de mesa, como recurso para as comunidades médicas e<br />

científicas. O campo da genômica tem apenas poucos anos de idade. Foi somente<br />

um ano atrás, em fevereiro de 2001, que meu time na Celera publicou nossa análise<br />

do código genético humano no jornal sem fins lucrativos Science. Ao mesmo tempo,<br />

os pesquisadores financiados com dinheiro público publicaram sua análise no jornal,<br />

com fins lucrativos, Nature. (Venter, 2002; tradução e grifos meus).<br />

142 Em muitas edições, o livro parece ser de 1623. No entanto, Campanella escreveu sua utopia em 1602 em italiano (no<br />

dialeto de Florença). Mais tarde, o texto passou por diversas traduções em latim, até chegar à sua edição mais famosa,<br />

publicada em Frankfurt em 1623 e intitulada Civitas Solis idea republicae philosophica.<br />

143 No esplêndido italiano renascentista de Campanella: “…V’è più historia in cent’anni che non ebbe il mondo in<br />

quattromila; e più libri si fecero in questi cento che in cinquemila; e l’invenzioni stupende della calamita e stampe ed<br />

archibugi, gran segni dell’unione del mondo...”. Tommaso Campanella (1568-1639), filho de um sapateiro analfabeto,<br />

foi filósofo, poeta, teólogo, padre dominicano. Sua filosofia se inspirava em Platão, no empirismo de Telésio e na<br />

astrologia. Em 1594, foi torturado e preso pela Inquisição, em Pádua e em Roma, sob suspeita de heresia. Em 1599, foi<br />

preso novamente, em Nápoles, por participar de uma conspiração contra a dominação espanhola na região (e por propor<br />

uma sociedade ideal coletivista, baseada – seguindo Platão – na comunhão dos bens e no amor livre). Fingindo-se<br />

doente mental, escapou à pena de morte, mas ficou na prisão durante vinte e sete anos. Lá, escreveu muitos de seus<br />

livros, inclusive uma corajosa apologia de Galileu Galilei, quando este também foi processado. Em 1634, temendo<br />

ulteriores perseguições, fugiu para a França a convite do Cardeal Richelieu e de Luis XIII, onde ficou até a morte.<br />

144 O mais antigo e famoso foro de debate e discussão pública nos EUA, fundado em 1903 e em que expuseram suas<br />

idéias Franklin Delano Roosevelt e Martin Luther King, Edward Teller e Dwight Eisenhower, Charles de Gaulle e Bill<br />

Gates, Joan Baez, Jesse Jackson e Yitzhak Rabin.<br />

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