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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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não sobre como melhor “transmitir”, “divulgar”, “popularizar”, “ensinar”, “disseminar” a<br />

ciência, mas, sobretudo, sobre como “engajar” a população e favorecer a “participação”.<br />

Em 1997, a revista Nature e o British Council organizavam um congresso em Paris<br />

sobre biomedicina e biotecnologias, em que se afirmava o “grande desafio” de encontrar<br />

maneiras “sofisticadas” de engajar o público nas práticas decisórias, pois já não era suficiente<br />

que os governos escutassem os conselhos de um comitê de experts, “esperando que o público<br />

aceitasse as conclusões sem questionar” (Butler, 1997).<br />

No mesmo ano, Jonathan Slack, biólogo ao centro de polêmicas incandescentes por ter<br />

entrado na mídia como o criador de “girinos sem cabeças”, não se limitava a responder às<br />

críticas com cartas publicadas em revistas científicas, mas aceitava submeter-se a um debate<br />

público com a imprensa para responder às questões éticas levantadas por sua pesquisa. Slack<br />

se declarava convencido da necessidade e utilidade do contato com os jornalistas, da<br />

responsabilidade que os cientistas têm de abrir-se para a sociedade, e comentava: “quanto mais<br />

o público é informado, mais chances existem de que os controles [sobre a pesquisa] sejam<br />

mais razoáveis do que restritivos” 274 . Abria-se uma nova temporada da comunicação pública<br />

da ciência e do marketing científico, com práticas parecidas, mas slogans diferentes: menos<br />

“compreensão pública da ciência”, menos “alfabetização”, menos massa ignorantes, e mais<br />

públicos ativos, dotados de conhecimentos e opiniões legitimas, que devem ser escutados em<br />

debates e que devem ser postos em condição de participar da governance em C&T. Aos<br />

poucos, e sobretudo no mundo anglo-saxão, governos e instituições científicas começavam a<br />

incentivar os cientistas a fazer divulgação ou estimular o “engajamento” (Quadro 19).<br />

Desde 1986, a Royal Society oficializa seu reconhecimento à divulgação feita por<br />

investigadores, através do Prêmio Michael Faraday, atribuído anualmente “ao cientista ou<br />

engenheiro cuja expertise em comunicar idéias científicas em termos leigos seja exemplar” 275 .<br />

No entanto, a mesma instituição entrega hoje também o Prêmio Kohn, atribuído “pela<br />

excelência em engajar o público com a ciência”, dando preferência “ao engajamento que toma<br />

a forma de diálogo ou consulta, em que as visões e opiniões da audiência são respeitadas e<br />

incorporadas” 276 . Hoje, especialmente nos países do G7, existem dezenas de textos, manuais,<br />

274 Slack, J. “Headless tadpoles and an informed public”, Nature 390, 1997: p. 111.<br />

275 http://royalsociety.org/faraday . Acesso em março de 2008, trad. minha.<br />

276 O vencedor recebe “uma medalha de prata dourada, um presente de 2500 libras e um grant de 7500 Libras para<br />

ulteriores atividades de engajamento”. http://royalsociety.org/kohnaward (Acesso em março de 2008).<br />

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