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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Conseqüentemente, dizem os enunciados dominantes, a universidade deve ter hoje uma<br />

terceira missão: além da educação e da pesquisa, deve saber transferir o conhecimento para<br />

o sistema produtivo e a sociedade toda (Etzkowitz, 2000). A sociedade do conhecimento<br />

precisa de universidades do conhecimento, geridas “managerialmente”, com “espírito<br />

empreendedor”. O discurso tecnocientífico, as práticas políticas, empresariais, de pesquisa,<br />

tendem cada vez mais a ver, a comprar e a vender a ciência como parte integrante do sistema<br />

econômico e de segurança nacional. A pesquisa científica, em seu entrelaçamento com<br />

técnicas e mercado, incorpora novas palavras de ordem. E os cientistas, como outros<br />

trabalhadores da informação e do conhecimento, aliás, como todos os trabalhadores, também<br />

devem lidar com novas normas e com um novo ethos 49 . Se o homem se vê como um Homo<br />

oeconomicus – não somente enquanto trabalhador, mas também na esfera privada, dos afetos,<br />

do planejamento familiar, das escolhas de vida – o homem de ciência também passa a ser um<br />

Homo scientiae oeconomicus. E, parafraseando Pierre Bourdieu, o ethos acadêmico passa a ser<br />

o de um Homo academicus oeconomicus.<br />

O capitalismo financeiro está atribuindo um valor monetário à propriedade<br />

intelectual até antes de produtos estarem prontos para o mercado (Rabinow, 1999: p. 166).<br />

Genes são patenteados como “invenções” muito antes que seja desenvolvido algum remédio<br />

ou algum organismo transgênico a partir deles. Empresas biomédicas vêem subir o valor de<br />

suas ações na Bolsa somente por ter anunciado uma descoberta ou uma possível patente, um<br />

avanço virtual, uma futura vacina.<br />

No <strong>neoliberalismo</strong>, a <strong>tecnociência</strong> alterou e multiplicou os papéis do cientista. Ele<br />

pode ser hoje, simultaneamente, um professor, um administrador ou um cientista-pesquisador<br />

na universidade; no governo, pode ser um especialista contratado, um parecerista para<br />

projetos, um conselheiro militar ou diplomático, um assessor em problemas estratégicos; na<br />

49 Mesmo na Rússia pós-soviética, onde os processos de privatização foram extremamente complexos e bastante<br />

diferentes que na Europa Ocidental, alguns autores enfatizaram uma reconfiguração do ethos científico para incorporar<br />

a racionalidade econômica, por meio de uma “considerável transformação na mentalidade dos cientistas, que tiveram<br />

que assumir o papel de empresários para ter a possibilidade de continuar a fazer P&D” (Glebovskaya, 2005; trad.<br />

minha)<br />

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