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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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desinteresse com respeito às coisas do mundo: “A ciência” – declarou certa vez – “é como o<br />

sexo: às vezes sai alguma coisa útil, mas não é por esta razão que a praticamos”.<br />

Na época da Big Science, muitos cientistas podiam concordar plenamente com as<br />

afirmações de Feynman, de Szent-Györgyi e até mesmo com a provocação de Hardy. Embora<br />

tais enunciações sobre o funcionamento e o papel da ciência estivessem longe de corresponder<br />

às práticas reais, ainda estavam afinadas e ressonantes com os ideais e o ethos compartilhados<br />

por uma parte consistente da comunidade acadêmica (especialmente da área da pesquisa “de<br />

base”).<br />

de que<br />

Ainda em 1968, um sociólogo do calibre de Robert K. Merton se declarava convencido<br />

<strong>As</strong> descobertas substanciais da ciência são [...] cedidas à comunidade [...]. A<br />

reivindicação do cientista sobre “sua propriedade” intelectual limita-se ao<br />

reconhecimento e estima [...]. O comunismo do ethos científico é incompatível<br />

com a definição de tecnologia como “propriedade privada” numa economia<br />

capitalista. (Merton, 1968: pp. 610-612, trad. e grifos meus).<br />

Ao longo do surgimento e da afirmação da biotecnologia molecular, as práticas mais<br />

explicitamente direcionadas para o mercado começaram a ter uma visibilidade e um peso<br />

relevante, mas ainda eram fortemente criticadas por grande parte da comunidade acadêmica.<br />

Em 1975, Georges Köhler e César Milstein, criadores da revolucionária tecnologia dos<br />

anticorpos monoclonais, consideraram inapropriado buscar direitos de propriedade<br />

intelectual sobre a invenção. Mas já no início da década de 1980 era comum encontrar<br />

investigadores interrogando-se sobre a reconfiguração em curso no ethos e na prática<br />

científica. “Motivos comerciais” – escrevia Bok (1982: p. 150, trad. minha) – “podem<br />

introduzir uma [...] ameaçadora forma de segredo. Para manter uma vantagem competitiva que<br />

poderia valer grandes quantidades de dinheiro, os cientistas que se envolvem com o mercado<br />

podem ser tentados a segurar a informação até que suas descobertas alcancem uma situação de<br />

patenteabilidade”. E isso, afirmava o autor, podia implicar uma mudança não apenas nas<br />

práticas, mas também no funcionamento epistemológico e no ethos da ciência:<br />

Com interesses deste porte em jogo, a natureza e a direção da ciência acadêmica<br />

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