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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Embora o fenômeno não seja certamente novo, para Ziman assume hoje intensidade particular.<br />

A ciência pós-acadêmica é forçada a sair da Torre de Marfim. O ethos e os critérios<br />

epistemológicos de avaliação da “boa ciência”, ambos até então internos à comunidade<br />

científica, começam a mudar: “A peer-review dos expertos é ampliada numa ‘merit review’<br />

por usuários não-especialistas. […] Até pouco tempo atrás, os cientistas acadêmicos podiam<br />

rejeitar a chamada para uma ‘responsabilidade social na ciência’ afirmando que eles não<br />

sabiam nada (e não se importavam) das aplicações de seu trabalho […] A ciência pós-<br />

acadêmica [...] deve compartilhar com [a sociedade] mais amplos valores e preocupações<br />

(Idem, p. 74; trad. e grifos meus).<br />

Além disso, a necessidade de recursos cada vez mais imponentes, na Big Science (para<br />

seqüenciar o genoma ou para acelerar partículas elementares, para estudar a origem das<br />

galáxias ou buscar uma cura para o câncer), levou à emergência de uma nova science and<br />

technology policy. Patrocínio estatal traz inevitavelmente “a ciência na política, e a política na<br />

ciência”, escreve Ziman, e o sistema de P&D se tornou tão importante, e envolvendo tanto<br />

dinheiro, que simplesmente não pode ser deixado por conta própria: a ciência é importante<br />

demais para ser deixada aos cientistas sozinhos.<br />

Tudo isso, leva a produção de conhecimento científico a incorporar cada vez mais,<br />

mesmo dentro do contexto acadêmico, características da ciência industrial: os cientistas<br />

estariam forçados, em muitas áreas, a conviver tanto com as normas mertonianas do CUDOS,<br />

quanto a obedecer, em sua prática como empregados ou como trabalhadores flexíveis, ao<br />

PLACE.<br />

1.12. “Tripla hélice”, ciência “reguladora” e ciência “pós-normal”<br />

Há ainda outras enunciações recentes sobre a <strong>tecnociência</strong> contemporânea. Algumas<br />

enfocando principalmente mudanças de caráter organizacional e institucional, outras a<br />

transformação nas relações entre a ciência e o resto da sociedade.<br />

Um modelo que teve recentemente algum sucesso no Brasil é o da “tripla hélice”, que<br />

enfoca a forma supostamente nova que assume na contemporaneidade a relação entre estado,<br />

empresa e universidade. A idéia de seus proponentes (Leydesdorff & Etzkowitz, 1996 e 1998)<br />

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