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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Os dispositivos são [...] máquinas de fazer ver e de fazer falar [...]. A visibilidade não<br />

se refere à luz em geral que iluminara objetos pré-existentes [...]. Cada dispositivo tem<br />

seu regime de luz, a maneira em que esta cai, se esvai, se difunde ao distribuir o<br />

visível e o invisível, ao fazer nascer ou desaparecer o objeto que não existe sem ela.<br />

Não é apenas pintura, mas arquitetura também (Deleuze, 1990: p. 155 segs.; grifos<br />

meus)<br />

Para fazer um dispositivo-prisão, por exemplo, não é suficiente construir um edifício. É<br />

preciso fundar um saber e uma ciência, dispor de discursos e regulamentos, disciplinar corpos<br />

e educar comportamentos. Em sua obra sobre Foucault, Deleuze (2006 [1988]) enfatiza este<br />

aspecto da relação entre o visível e o enunciável:<br />

O conteúdo tem uma forma e uma substância: a prisão, por exemplo, e os que nela<br />

estão encerrados, os presos [...]. A expressão também tem uma forma e uma<br />

substância: o direito penal, por exemplo, e a “delinqüência” enquanto objeto de<br />

enunciados. <strong>As</strong>sim como o direito penal enquanto forma de expressão define um<br />

campo de dizibilidade (os enunciados de delinqüência), a prisão como forma do<br />

conteúdo define um local de visibilidade [...]. Mas já era esse o caso em História da<br />

Loucura: na idade clássica, o asilo surgia como um lugar de visibilidade da loucura ao<br />

mesmo tempo que a medicina formulava enunciados fundamentais sobre a<br />

“desrazão”... (Deleuze, 2006: p. 57, grifos meus).<br />

Aparece assim outra característica crucial: os dispositivos são redes nas quais não apenas<br />

interagem o visível e o dizível, mas também o saber e o poder:<br />

Um dispositivo implica linhas de forças. [...] De alguma maneira, elas [...] operam idas<br />

e vindas entre o ver e o dizer e inversamente, agindo como setas que não cessam de<br />

penetrar as coisas e as palavras, que não cessam de conduzir à batalha. [...] Trata-se<br />

da “dimensão do poder”, e o poder é a terceira dimensão do espaço interno do<br />

dispositivo... (Deleuze, 1990: p. 156 segs.).<br />

Não se governam as coisas e a população apenas com a repressão e com técnicas de<br />

dominação, diz Foucault (e também Deleuze), nem somente com ideologias para mascarar a<br />

realidade, mas por meio de um saber que auxilia o poder a definir, por meio da verdade, o que<br />

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