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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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caixa preta: se afirma a idéia de que a verdade se encontra na imanência dos fatos<br />

empíricos. O conhecimento científico é aquele que se funda numa aliança entre a razão, os<br />

sentidos e os instrumentos técnicos.<br />

Ainda hoje, tais argumentos (pureza associada à empiria, objetividade e imparcialidade<br />

associadas aos instrumentos técnicos) são centrais para o dispositivo tecnocientífico e para as<br />

operações de controle, regulação, rejeição de discursos alternativos. A <strong>tecnociência</strong>, dizem<br />

freqüentemente os cientistas quando envolvidos em alguma polêmica pública, é baseada em<br />

“fatos”, não em “ideologia” ou em política (<br />

Quadro 8 e Quadro 11). A razão, sem o suporte dos artefatos de laboratório, é uma<br />

razão enviesada pelas paixões, preconceitos, condições políticas e religiosas. A razão<br />

experimental é purificada graças à passagem pelos jalecos brancos do laboratório, graças a seu<br />

fluir em tubos de testes, graças às bombas de vácuo, às balanças, aos relógios. Ela é pura<br />

porque destilada, filtrada das emoções e das opiniões do pesquisador. Francis Bacon expressa<br />

fortemente esta idéia no Novum Organum:<br />

A compreensão humana não é um exame desinteressado, mas recebe infusões da<br />

vontade e dos afetos; disso se originam ciências que podem ser chamadas “ciências<br />

conforme a nossa vontade”. Pois um homem acredita mais facilmente no que gostaria<br />

que fosse verdade. <strong>As</strong>sim, ele rejeita coisas difíceis pela impaciência de pesquisar;<br />

coisas sensatas, porque diminuem a esperança; as coisas mais profundas da<br />

natureza, por superstição; a luz da experiência, por arrogância e orgulho [...]. Em<br />

suma, inúmeras são as maneiras, e às vezes imperceptíveis, pelas quais os afetos<br />

colorem e contaminam o entendimento. (Bacon, 1997 [1602], Par. XLIX; grifos<br />

meus).<br />

Os juízos de valor, em suma, é que são impuros, enquanto os juízos de fato são objetivos,<br />

repetíveis, testemunháveis por qualquer gentleman suficientemente instruído e culto:<br />

Como havia de ser, então, fundada a ciência adequada? Boyle e os experimentadores<br />

ofereceram os fatos como fundamento do conhecimento apropriado. No sistema do<br />

conhecimento físico o fato era o item sobre o qual se podia ter o maior grau de<br />

confiança probabilística […]. Na enraizada metáfora da filosofia mecânica, a natureza<br />

era um relógio […] [ (Shapin & Shaffer, 2005: p. 56).<br />

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