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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Neste sentido, seja velha ou nova a lógica com que o capitalismo funciona, seja a<br />

incorporação do conhecimento como mercadoria algo “subversivo”, ou não, da lógica do<br />

capital, podemos evidenciar algumas características fundamentais de como o capitalismo, em<br />

seu entrelaçamento atual com a ciência e a tecnologia, leva à <strong>tecnociência</strong> contemporânea.<br />

Essas características (nenhuma sendo necessariamente revolucionária por si só) constituem no<br />

conjunto a peculiaridade da <strong>tecnociência</strong> contemporânea.<br />

Mais que perguntar se faz sentido falar de “economia do conhecimento”, se nossa era é<br />

a “da informação”, se o capitalismo hoje é “cognitivo” ou “patrimonial”, é interessante<br />

reparar, reflexivamente, que as leituras sociológicas e históricas fazem parte do próprio<br />

repertório da <strong>tecnociência</strong>, de suas condições históricas de possibilidade. Fragmentos<br />

discursivos se replicam, lutam entre si pela hegemonia e, embora com suas contradições e em<br />

suas diferenças, compartilham alguns elementos, emergem de substratos comuns, a partir de<br />

condições de possibilidade que se constituíram na segunda metade do século XX 42 .<br />

Algo parecido acontece na Igreja de S. Clemente: nada poderia ser mais estridente (e<br />

sublime) do que ver, um frente ao outro, um enorme mosaico bizantino – com suas figuras<br />

bidimensionais – e uma capela pintada e calculada segundo a estética e a matemática da<br />

renascentista. De uma forma ou de outra, com objetivos apologéticos ou críticos, na atualidade<br />

a apropriação do conhecimento/mercadoria é narrada como prática intrínseca à <strong>tecnociência</strong>, e<br />

a gestão e o governo do saber/poder tecnocientífico são vistos como temas cruciais para a<br />

contemporaneidade.<br />

1.3.2 A ciência como bem “não-rival” e como mercadoria<br />

Enunciados sobre a expansão notável da produção organizada de conhecimento (Harvey,<br />

2006), que assumiria “cada vez mais um cunho comercial”, se multiplicam hoje, constituindo<br />

um sintoma da reconfiguração neoliberal do discurso tecnocientífico:<br />

O conhecimento da última técnica, do mais novo produto, da mais recente descoberta<br />

científica, implica a possibilidade de alcançar uma importante vantagem competitiva. O<br />

próprio saber se torna uma mercadoria-chave, a ser produzida e vendida a quem<br />

42 Como mostrarei no capítulo 4, a rede e a relacionalidade, a informação, a interação e a retroalimentação são pilares<br />

de fundação na gênese do discurso contemporâneo.<br />

41

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