10.06.2013 Views

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

configuração do líquen discursivo volta a ser aproveitado aqui e revela a presença de camadas<br />

em que a interação reticular, a troca entre lugares e sujeitos multíplices, a retroalimentação,<br />

estão numa relação de mútua constituição e de sustentação recíproca com elementos da<br />

governamentalidade e do controle.<br />

Mergulhando no fluxo das press release de instituições de pesquisa, das declarações<br />

oficias de cientistas e policy-makers, das notícias e reportagens de divulgação, deixando o<br />

discurso falar, captando suas metáforas, sua formulação narrativa dos métodos e dos processos<br />

da <strong>tecnociência</strong>, é fácil encontrar inúmeros fragmentos que reproduzem ou reformulam<br />

elementos ligados aos movimentos tectônicos descritos acima. Juntos com os estratos<br />

analisados no capítulo 3 (“Novum”, “Luzes”, “Imperium” etc.: veja Figura 29), os refrãos<br />

tecnocientíficos atuais falam de governamentalidade, de auto-regulação do mercado, de<br />

controle, de empreendedorismo.<br />

No capítulo 3, mostrei que as conexões internas do dispositivo e os elementos<br />

sobrepostos no discurso das ciências, das técnicas, do mercado estão entrelaçados numa hélice<br />

de inevitabilidade e automatismo. No entanto, outras camadas fazem com que este<br />

automatismo seja de tipo cibernético (e reticular, ao invés de hierárquico). A <strong>tecnociência</strong> não<br />

é um dispositivo-golem, um autômato que obedece cegamente à programação inicial que<br />

recebeu (pela “lógica do capital”, pelo “método científico”, etc). A <strong>tecnociência</strong> não funciona<br />

com base em axiomas e códigos fixos. Seu funcionamento é modulado por retroalimentações<br />

capilares, moleculares, multíplices, advindas de lugares e interzonas sociais e culturais.<br />

Limitei-me a focalizar aqui três grandes estratos interdependentes que contribuem para<br />

constituir as condições de possibilidade da <strong>tecnociência</strong> atual. Três “solos” fraturados por<br />

falhas tectônicas e dos quais emergem refrãos e links discursivos. Ecoando no fluxo de<br />

informação tecnocientífica atual, no Brasil e no exterior, tais elementos mostram a<br />

governamentalidade neoliberal, o controle, a biopolítica, a “cibernética” da <strong>tecnociência</strong> em<br />

ação (Quadro 21, Quadro 22, Quadro 23):<br />

1. Há uma camada discursiva em que aparece a narração da sociedade como corpo em que não<br />

há um único soberano, um programador, mas, sim, tantos, multíplices, descentralizados pólos<br />

operatórios, agentes econômicos, sujeitos que, transversalmente ou de baixo para cima<br />

(bottom-up), de forma interativa, “in real-time”, retroalimentam e modulam o funcionamento<br />

276

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!