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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Há, obviamente, exceções importantes, tanto na OCDE (por exemplo, Itália e<br />

Portugal), quanto, por exemplo, em países do ex-bloco comunista, em que os governos ainda<br />

são os principais financiadores da pesquisa e do desenvolvimento (NSF, 2006; OCDE, 2004).<br />

Por outro lado, em alguns países o peso do<br />

investimento privado é enorme: no Reino Unido,<br />

apenas 30% dos recursos para P&D são<br />

governamentais. Na Coréia, a indústria fornece<br />

mais de 70% dos recursos. No Japão, mais de 80%<br />

(veja Apêndice I).<br />

A situação brasileira é interessante. O<br />

investimento em C&T, como porcentagem do PIB,<br />

é elevado e cresceu bastante na última década,<br />

alcançando frações do PIB comparáveis com as de<br />

alguns países europeus, como Itália, Portugal e Espanha. De acordo com o Ministério de<br />

Ciência e Tecnologia, entre 2000 e 2006 os investimentos em C&T no Brasil subiram de<br />

1,22% para 1,36% do PIB. Mas o que é mais sintomático, neste crescimento, é ver como<br />

mudou não tanto a quantidade, mas, sim, a origem deste dinheiro. Em 2000, 60% do recursos<br />

para C&T eram públicos e 40% empresariais. Em 2006, 49,92% público, 50,08% empresarial<br />

(MCT, 2007). É um indício claro de que o Brasil está passando por uma dinâmica análoga à<br />

dos países ricos. Nos estados onde há presença mais forte de empresas tecnocientíficas de<br />

ponta, como o de São Paulo, a inversão característica dos países da OCDE já está se<br />

completando. Em 2002, organizações empresariais foram responsáveis por pelo menos 2,2 dos<br />

cerca de 4 bilhões de reais gastos em P&D no estado de São Paulo, isto é, aproximadamente<br />

54% do total (Gusmão, 2005).<br />

Tudo parece indicar que, junto com a crise do fordismo, a grande era da Big Science<br />

institucional, impulsionada principalmente pelos governos nacionais e cristalizada no modelo<br />

linear de Vannevar Bush, esteja chegando a seu fim. Trata-se de uma virada bastante marcada<br />

(da qual os números acima representam somente um indicador entre muitos) em direção à<br />

comercialização e industrialização da pesquisa e, em geral, à privatização dos sistemas de<br />

produção e circulação do conhecimento. Virada que emerge nos mesmos anos em que Alain<br />

Touraine (1971) e Daniel Bell (1973) começam a falar do surgimento de uma sociedade “pós-<br />

63<br />

Figura 13. Gastos públicos e privados em P&D na<br />

OCDE (fonte: OECD, 2006)

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